quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

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Lembrar do dia, notar o céu... - Pablo Flora





Parte clara; parte escura. Esse é o dia, o dia por completo. E se tratando das partes de suas partes, nenhuma outra é tão elevadora de sentimentos como a passagem do claro para o escuro e vice-versa: madrugada metamorfoseando-se em manhã; tardinha sendo engolida pela noite.

Por um triz ia perdendo o dia, como pode? Logo eu que não perco uma única fagulha se quer do majestoso sol esparramada pelo céu enquanto vai se findando... E nem brincando perco uma olhada à lua, minha graciosa e pequenina lua e suas manifestações noturnas.

Fui salvo do meu exílio domiciliar quando tive que buscar uma encomenda mandada por minha avó, trazida por um conhecido, aguardá-lo-ia num ponto da avenida do carnaval (assim conhecida).

Aos primeiros passos idos pela rua à tardinha, fui acometido logo por uma sensação que me estabeleceu em paz: a viração daquele dia ameno ainda preservava-se pelas ruas, desatormentando os tormentos e pondo sorrisos a tudo. Como não poderia antes ter dado uma espiada no que acontecia por aqui? Mas o mais deslumbrante foi ter reparado no céu: numa intensa cor em tons vermelhos que o manchara depois de ter-se apresentado nublado, parecia sangrar em alguns pontos... e o sol já se ia, agigantando seus lumes pelo céu... intensificando aquelas manchas suspensas que pareciam mais indícios de pinturas divinas. Meu Deus!... Mesmo eu tendo a ventura da poesia, fiquei inefável diante àquela tal pintura na abóbada celeste: apenas olhava maravilhado, besta... de tamanha... tamanha... ah! Algo inefável apresentava-se ali no céu, e era tão imponente – até os prédios se curvavam por tamanha imponência – e surreal-simbólico, um verdadeiro presente aos simbolistas e às sinestesias mais desatentas.

E pensar que quase ia perdendo aquele show de imagem; aquela explosão de sensações transmitidas bem ali... bem aqui, sobre minha cabeça. Sem falar no lusco-fusco que já se preparava... misturando seu manto dourado àquela tintura: mosaicos rasgados no firmamento se firmavam... E eu ali numa meditação profunda: fez-me lembrar da dádiva de viver a vida em paz... e perceber a vida em cada manifestação comum que é dado a nós.

1 Comentário

PATRICIA ROCHA DE AMORIM

Amigo poeta, essa troca de guarda do claro para escuro, faz-nos sentir mais do que simples telespectadores. Amei! Abç forte.