quinta-feira, 12 de setembro de 2013

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Noite



Fazia um dia de sol na praia. Eu era um adolescente de uns dezesseis anos e estava junto de três outros meninos, todos na faixa dos oito anos. Brincávamos descontraidamente, conversávamos, jogávamos água com os pés uns nos outros. Eu tinha a impressão de ter responsabilidade por aqueles três garotos, como se eu fosse um amigo ou irmão mais velho.

Eu disse a eles que ficassem na areia enquanto eu dava um mergulho para refrescar o corpo. Mergulhei na água salgada e fui nadando em direção ao mar aberto. Gosto de ficar flutuando um pouco depois da rebentação. De súbito, fui puxado por uma corrente que me levava mar adentro. Tentei lutar contra a corrente, mas ela era mais rápida que eu conseguia nadar em direção a areia. Isso me deixou preocupado; mas preferi desistir da batalha e permanecer tranquilo, na superfície. Não dava para lutar contra aquela corrente. Percebi então que estávamos às bordas de um remoinho, uma gigantesca circulação d’água no sentido anti-horário, cujo raio era de aproximadamente cem metros. Escrevi “estávamos” porque havia outros banhistas naquele movimento circulatório. Havia também peixes, polvos, arraias, golfinhos – todos girando em torno do centro, no sentido contrário aquele dos ponteiros do relógio. A água estava muito límpida e a visibilidade era excepcional. Um espetáculo fascinante, e era estimulante participar daquela circulação d’água e de vida.

Observei um tubarão a minha esquerda, ele também era tragado pelo remoinho, estava a um arco de circunferência no sentido horário, atrás de mim. Ele se aproveitava da circulação para devorar pequenos peixes que encontrava pela frente, e ele nadava em minha direção. Isso me causou grande apreensão. Pus-me a nadar em disparada no sentido anti-horário, contornando por fora e ultrapassando outros banhistas que também faziam parte da circulação. Eles não estavam nada tranqüilos, pareciam mesmo deseperados e isso piorava a situação deles; alguns lutavam para não se afogar, manter-se na superfície. Fiquei preocupado com eles, mas eu nada podia fazer: o tubarão estava vindo, eles serviam como obstáculos, escudo ou eventual banquete para a fera marinha.

De repente o nível d’água começou a baixar. Era diferente daquele efeito de um ralo: o remoinho estava se abrindo, a circulação líquida ficava à margem, deixando uma área central circular. Essa área lembrava o centro de uma viela do século dezenove. Tudo muito antigo, uma paisagem bastante verde e bucólica, característica do interior. Havia pessoas caminhando com trajes de época, usando chapéus. Havia algumas contruções singelas: algumas casas, uma igreja. Por motivo que desconheço aquela viela me parecia estranhamente familiar. Senti-me acolhido naquele local. Tive a sensação de uma viagem no tempo.

PS: Este texto é a simples descrição de um sonho muito vívido, que deixou uma forte impressão.







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