segunda-feira, 7 de julho de 2014

0

Palavras órfãs de poesia: o que restou



Então é domingo.
Pai, eu vou deixá-lo na sua solidão,
dormitando em frente da t.v.
Mãe, a bocarra escancarada,
o ressonar baixo, bíblia sobre o colo,
eu vou deixá-la na sua solidão.
Eu vou depressa,
pela estrada,
para alcançar a minha solidão,
que já partiu.
O amor é uma casca de ferida espessa
que eu descolo da carne
com as minhas unhas compridas;
dói cada gota de sangue
que vaza.
Será que você sente
se eu destilar as minhas palavras
órfãs de poesia,
meias-vidas obscurecidas
pela avalanche do bom mocismo infame?
Bem do fundo dessa tua cachola,
você e eu sabemos da farsa,
arquitetada por nós mesmos,
de nossas tolas solidões.
E tudo isso é muito pouco,
pra quem é poeta,
o seu abridor de latas não resolverá
a minha equação transcendental.
Posto o início, o exposto
e o que restou.





Seja o primeiro a comentar: