A cidade carrega marcas da natureza
exuberante; em tons claros e escuros move e transfigura outra dimensão da
realidade para marcar o quadro que em si harmoniza: o tempo, o ontem e o hoje.
A conquista do povo que tem apenas o direito de jogar as cinzas no ambiente,
após aplaudir os vencedores. Ivaldino Tasca demonstra no livro Retrato 3x4 de Passo Fundo, com o ensaio
“Como Brota Um Lugar?”, e indaga: “... como brota uma cidade?... Quem foi o
primeiro a chegar ao lugar que viria a ser cidade que agora está no mapa?”
A cidade tem a face exposta na
paisagem e na arquitetura, como o sonho em significados: registra o sorriso dos
cidadãos na esperança interligada pelo consciente de suas limitações. Ela
desfila a harmonia do impossível em “gaiolas” emaranhadas que se erguem sem luz,
ao migrar pessoas que procuram algum sentido nas máscaras que encenam a vida
urbana. Nas palavras de José Eduardo Degrazia, “Não se conhece / uma cidade se não se andou / em cada bairro, se nossos
pés / não trilharam a mínima senda / do morro onde as crianças / levantam
pandorgas...”
A cidade em seu percurso anula o que
há de liberdade, nela pulsa a troca dos mundos em encontros transitórios, fazendo-nos
esquecer de ir ao encontro das pedras que ladeiam as ruas de nossas casas, por
entendermos serem essenciais os sinais luminosos na linha do horizonte. Eduardo
Barbossa retrata que ”A cidade acordada /
Eternamente // os sons e movimentos / tiram-lhe o sono // cansada... / deseja o silêncio...”
A
cidade não cicatriza as lembranças que a saudade reflete no que fica das
atitudes das pessoas. A cidade não permite o esquecimento, que está prescrito
em seu viver, no que destila e instila o condenar a quem errou, como expressa
Pedro Du Bois, “... Inertes / vemos nossa
/ simplicidade bater em retirada / pela janela do oitavo andar, / cada vez que
a vergonha sobe / pela escada pulando os degraus pelos / nossos desiguais. //
Sem piedade.”
A cidade mostra o nada ao evocar sua
presença no silêncio, onde o vento sopra para refazer o esboço no ir e vir do
pensamento. Assim, a brisa expande, interpreta e invade o limite que a cidade
adota ao recompor o que nela perdura, como em Juliano Garcia Pessanha, “... andei com você pela cidade e eu nomeei
os lugares e a vida – sonho de cada rosto que cruzamos...”; ainda, “Cruzei doze cidade, sempre olhando as
casas pelo lado de fora e espantado porque do rosto dos homens havia sumido o encanto...”
A cidade não se protege dos ruídos; tudo
é rapidamente consumido no desespero por registrar os diferentes sons, nada se
passa como no passo da bailarina. Tragédias e cores transmitem o poder na
sensação de consumir o gesto na imperfeição das formas; Helena Rotta de Camargo
alerta, “...não deflore os muros nem fira
as paredes, que as marcas da rebeldia agem como vapores tóxicos nas veias da
cidade”.
A cidade muda o nosso destino; sua
procedência se transforma na revelação de que a verdade é essencial para
mostrar a conservação de suas marcas na história. Barulhos acompanham nossos
passos, mesmo antes de atingirmos o destino final em que o homem torna-se
cidadão na imensidão da história.
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