Na
gaveta posso encontrar referências históricas memorialísticas e as lembranças,
como sentimento de nostalgia provocada por minha vontade de voltar no tempo.
Para Pedro Du Bois, “Os objetos
sintetizam o que somos...”
Fico
em suspense ao refletir sobre o fascínio do conteúdo da gaveta; logo, confronto
as lembranças para estabelecer a ação do tempo e manuseio, por único motivo:
busco conhecer a história e não me intimidar com o valor descoberto. Sinto como
se estivesse abrindo um livro de poemas pela primeira vez.
Na
gaveta são guardados objetos pessoais. Nela contém um universo mágico e perco o
fôlego ao pensar no cenário e nas palavras descerradas. Pedro Du Bois retrata, “Tudo o que precisa /guarda / em gavetas
acima / das possibilidades”.
Minha
curiosidade ronda a fantasia enquanto não tenho permissão para abrir a “tal”
gaveta. Peco, porque fico pensando sobre o segredo que está guardado. Quanto me
influenciaria o descobrir? Seriam cartas de amor? Bilhetes de encontros? Amores
e desilusões? Por que insisto em descobrir e vasculhar os objetos, se posso vir
a me decepcionar com a surpresa? Não há jeito. Não consigo driblar a
curiosidade. Preciso ver para crer! Almandrade resalva, “... afinal ver é um incômodo // tentação do saber”.
Reconheço
que espiar a gaveta é desafiar o tempo e sentir a emoção mesclada com as
saudades. Momento em que se apresenta o passado no presente, revelando os
diferentes talentos, como o poeta Benedito C. Silva na obra Gavetas Abertas em Cômodos Diferentes, que
revela, “Gavetas // Limpar as
gavetas / É despir-se da roupa velha //
a sua foto com carinho protegido / Guardada entre tantas outras coisas sem
sentido...”
Outro
momento foi tirar da gaveta, o livro de Tânia Pelegrini, Gavetas Vazias – ficção que relembra a política dos anos 70; até
hoje aquelas gavetas permanecem
semifechadas pela barbárie e o sofrimento decorrente.
Resta
manter abertas as gavetas da paisagem e da poesia para eu poder expor a minha
ligação com o mundo, como em Millôr Fernandes, “A gaveta aberta / Tem expressão / Liberta”.
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