segunda-feira, 15 de outubro de 2018

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Pequenas histórias 296

Às vezes o som



Às vezes o som repercutia forte, prolongado, outras soava chocho, e conforme a curvatura, o som nem se propagava, morria ali mesmo dentro da mão. A mão pousando em intervalos, como seus pés pisando cada degrau, apoiava-se no corrimão metálico e, assim, não se sentia cansado logo nos primeiros lances da escada. Conforme avançava as luzes acendiam tirando o tétrico escuro.
Tomou a iniciativa em subir os cincos lances de escadas para dar uma oportunidade ao corpo de se exercitar. Talvez, poderia não ser de grande valia, mas pelo menos tentava desenferrujar as articulações que nessa altura do campeonato dava indícios de mau funcionamento. O primeiro dia chegou ao quinto lance da escada ofegante, precisou parar um pouco a cada lance da subida. A escada em caracol, para quem não está acostumado, provoca uma pequena tontura, nem tanto para subir, mais para descer, por isso ele apenas subia, evitava descer. A primeira e a única vez que desceu pela escada, chegou ao térreo com tontura sendo preciso se apoiar a parede. Conforme vencia cada degrau foi tomado por um sentimento de terror tétrico.

- Pensou uma pessoa subindo essas escadas, as luzes por um motivo sem explicação não acedem, e essa pessoa, ouviria apenas um som, como esse que vou fazendo com anel batendo no corrimão e provocando esse som que se propaga sem que ela, a pessoa soubesse de onde veria? E para dar maior ênfase no suspense, às vezes parecia que som soava a sua frente, outras atrás dela, até o ponto em que ela parece que vai desmaiar, entrando num transe alucinógeno e pavoroso.

Nisso lembrou-se do hotel Overlook, onde Jack Torrance perde a razão e, dominado pelos fantasmas, passa a perseguir pelos corredores, o pequeno Danny, no livro e no filme de mesmo nome: O Iluminado.

Num momento sem atinar ao certo o que lhe ocorria, viu-se parado prestando atenção no vazio que, tanto descia como subia a escada. Um silêncio aterrador dominou todas as estruturas da escada. Foi então que a luz apagou. A sensação de vazio foi crescendo, pareceu ouvir um leve toc toc de passos na escada. Não tinha a noção exata se estava subindo ou descendo, apenas percebia que o som repercutia com mais força dando indicio, com isso, que se aproximava dele. Não esperou um segundo, nem procurou ver em que andar estava, abriu a porta e...

... Sentiu que alguém cutucava seu ombro.

- Ei, cara, você não está na sua casa, vê se acorda. Está dando na vista...

Pastorelli

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