quinta-feira, 15 de novembro de 2018

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Pequenas histórias 301

O ministério do sexo




- o ministério do sexo seguro recomenda: texto desaconselhável a menor de vinte anos, as pessoas moralistas e as senhoras e senhoritas praticantes do bom sexo seguro, mamãe e papai, pois contem cenas de sexo explicito e termos chulos, no caso de reincidência, procurar a delegacia do menor mais próxima -  


Houve um dia..., quer dizer uma noite intragável em que ele andava pela cidade, isso era mais ou menos..., não, não sabia precisar com exatidão as circunstâncias horárias, mas era uma noite de verão terrivelmente quente, em que estava precisando de algo excitante, de algo que fosse proibido, que o levasse a aplacar a inquietação do calor noturno.

Claro, poderia fazer muita coisa, ir a lugares fabulosos, boates, bares, caçar pelas esquinas do pecado, porém sua falta de perspectiva monetária o atrapalhava, além do que não possuía a audácia precisa para se aventurar sozinho em exóticas aventuras. Sua capacidade operística desconhecia os points interessantes, os fascínios das luzes e sons ao longo da avenida. Por sua timidez caipira não vivia em grupos de amigos onde cada um conhecia algo fascinante nas noites calorosas do verão.

Sendo assim, quando se deu conta, estava dentro do cinema vendo um filme de baixa categoria onde casais fogosos se enroscavam em histórias fajutas só para demonstrarem suas aptidões sexuais. A cena que se desenrolava na telona, apresentava de tudo o que era de mais escroto em matéria de sexo. Além do casal central explicitamente, ora anal ora oral, havia swing, três ou quatro homem e uma mulher, ou cinco ou seis mulheres e um homem, ou mesmo homossexualismo descarado.

Por que estava ali? – perguntava tediosamente pensando em ir embora. Nada daquilo estava apaziguando-o, vamos dizer assim, sua falta de aptidão. Fixou sua atenção na tela, na cena de dois homens se beijando enquanto duas mulheres falicamente os satisfaziam. Inclinou a cabeça para trás. Fechou os olhos e procurou ficar alheio ao que se passava na tela. Estava assim por quase cinco minutos, quando sentiu uma mão deslizar por sua coxa em direção à braguilha da calça jeans. Virou para a direita a cabeça lentamente. Ao seu lado estava um casal, homem e mulher, ela loira, ele moreno, beijavam-se ao mesmo tempo em que ela introduzia a mão entre sua braguilha. Quieto, fascinado, intrigado e imóvel permaneceu sentindo os dedos suaves avançando delicadamente. Aos poucos, não encontrando resistência, a mão envolveu todo o adormecido despertando-o. Ereto, livre do tecido áspero do jeans, recebeu a macieza da boca feminina. Rilhou os dentes segurando o imponente Vesúvio impedindo-o de lançar sua lava quente e gostosa. Enquanto isso, o parceiro da loira, penetrava-a numa posição inexistente no Kama Sutra. Assim ficaram por longos segundos.

- Agora é a minha vez – disse ela se desvencilhando do parceiro. Em seguida ficou de joelhos na poltrona, e, ofereceu a ele, a gruta profunda e escura, para que Teseu eliminasse o terrível Minotauro.  
- A filha da puta está sem calcinha, vem preparada a safada – pensou ao se enfurnar na gruta misteriosa.

De repente notou que a razão e o prazer fugiam ao descontrole perigosamente. Ao seu lado direito, o parceiro da loira, participava de um bouquet furioso, a sua esquerda, sem saber como, surgiu um cara de espada em riste oferecendo-se ao que a loira aceitou afetuosamente masturbando-o, e, acima de sua cabeça, outro a penetrava oralmente. Achou melhor dar fora dali.

Lentamente escorregou o corpo por baixo da loira, pulou o cara que de joelhos enterrava o rosto entre as pernas do moreno. Antes de sair olhou para traz. O que viu foi um amontoado de sombras no lusco fusco da projeção do filme.

Saiu do cinema. Recebeu no rosto a brisa da madrugada. Sorriu. Procurava aventura e acabava de fugir de uma. Como o ser humano é baixo! Como pode se rebaixar tanto dessa maneira, apenas para se satisfazer sexualmente! Não condenava tal atitude, condenava os meios, a forma de realizar certas fantasias. Achava que deveria sim, satisfazer as fantasias, por pra fora os desejos mais íntimos sem culpa e sem ferida. Correto ou não, não criticava, apenas ressaltava para o perigo dessas promiscuidades que, pelo que parecia ninguém estava nem aí. Atravessou a rua, ao dobrar a esquina topou com um grupo de jovens.

- Ua, gostosão, como está essa beleza entre as pernas – disse e ao mesmo tempo apalpando-o.

- Nossa! Que beleza, quer me comer?

Sentindo pena e ao mesmo tempo certa asquerosidade no ato, empurrou o rapaz brutalmente.

 - Vai se foder, cara e não me enche o saco.

- Ei, machão se cuida senão um dia pode pegar o seu, viu?
Não deu pelota, desceu rapidamente a avenida. Olhou o relógio. Faltava ainda trinta minutos para o metrô abrir suas portas. Cansado sentou no degrau e encostou a cabeça na parede. 

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