terça-feira, 4 de dezembro de 2018

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MOMENTOS no TEMPO



        
            As obras de arte ilustram nossos momentos no tempo através da linguagem, como na significativa representação dos gravadores de xilogravura, que vem a ser a técnica de gravação na pedra desenvolvida sem modismos. Carlos Martins escreveu que “o que tudo isso reflete, evidentemente, é uma concepção de arte que não se preocupa em andar na moda – e sim em encontrar e conquistar seu próprio espaço”. Na técnica da xilogravura, lembrando-me da arte como história, encontro os gravadores Lívio Abramo e Oswaldo Goeldi, que cultuaram a arte popular, assim considerada até os dias de hoje.
            Momentos no tempo revela que Lívio Abramo detectou semelhanças na xilogravura, como arte versátil com elementos técnicos, próprios e característicos. Ainda, disse que “a xilo é a arte da raiva”, porque os gravadores entalham com força na rigidez das linhas. Lívio também organizou o livro Pelo Sertão, de Afonso Arinos de Melo Franco, em 1946.
            Um lado curioso do tempo é que com a xilogravura foram reveladas as culturas populares, principalmente, a nordestina, pois, a partir de século XX, a referida técnica passou a ilustrar os folhetos de Cordel.
            Outro lado do tempo é lembrar o momento em que Mário de Andrade influenciou os xilogravadores a ilustrarem folhetos de Cordel, através do manifesto conduzido a uma geração de gravadores, onde a modernidade os ligou ao mundo quando a converteu em tema favorito, como arte popular. Para o cordelista Manoel Camilo dos Santos, “Lá não se vê mulher feia / e toda a moça é formosa / alva, rica e bem decente / fantasiada e cheirosa, / igual a um jardim / repleto de cravo e rosa”.
            Momentos no tempo são percebidos através das obras de arte, que trazem essa marca registrada em cada performance e talento, como cultura tipificada através da xilogravura brasileira, expressada no Cordel. Arte que trata de um mundo mágico em diferentes nuance, ao ser composta em harmônicas linhas, palavras e formas que representam imagens populares, com detalhes, no revelar as várias facetas do nosso Brasil.
            Essa mescla entre a gravura e a literatura chega até nós como cultura, e se destacam como arte, porque vai de encontro à realidade ao buscar retratar a si própria. O cordelista Leandro Gomes de Barros expressa, “O povo me chama grande / E como de fato eu sou / Nunca governo venceu-me / Nunca civil ganhou / Atrás da minha existência / Não foi um só que cansou”.

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