Sou a primeira a aceitar convite para
ler obras literárias, principalmente, se for antiga, pois, costuma ser “mais
viva” quando contada através das histórias ouvidas no decorrer do tempo; posso
ler no correto tom as necessidades, inquietudes, costumes e anseios dos
personagens. Suas posições político-sociais versando sobre os dias de ontem são
temas inegáveis que rondam o ambiente no abordar questões polêmicas de cada ser
em relação íntima com o curso da vida; como encontro no livro-álbum, de 1993,
escrito e ilustrado por Ruth Schneider: O
Cassino da Maroca.
Ruth expõe à luz do dia o que se
passava à noite, entre portas fechadas, no Cassino.
Resgata a época inusitada no espelhar, através da arte, a sociedade
passo-fundense dos anos cinquenta. O gosto pela história do Cassino da Maroca a incentivou a contar
sobre aquele ambiente, o mais procurado pelos homens para a realização dos seus
desejos, no desafio de se realizarem sexualmente; pagando o preço de dizer
“sim” à liberdade, libertinagem e liberalidade em relação ao sexo e ao prazer
físico. Desvela assuntos que despertam curiosidade, ainda hoje, ao retratar o
mistério dos prazeres dos homens enquanto frequentadores do Cassino, onde seus pensamentos e
sentimentos se manifestavam – e iam além – no escolher a mulher mais bela e
sensual do local; disputavam entre si a meretriz mais sensual e provocativa.
Por tudo isso, O Cassino da Maroca
era o ponto de encontro onde as “coisas” aconteciam, sob o olhar compenetrado
da cafetina. Seus “clientes” consideravam o local alegre, voluptuoso, prazeroso
e fonte de desejos.
Contam as más línguas que, “Um frequentador assíduo do Cassino estava em
sua casa, comemorando seu aniversário com a família e amigos quando, após muita
festa e bebidas, refestelou-se no sofá da sala e gritou para a mulher que
passava: “Vadia, fecha a rosca que
quero ir para casa.” O problema foi que ele estava em sua casa e era a sua
esposa a mulher que passou na sua frente.
O
Cassino da Maroca era “assunto” que despertava crescente atenção na elite
da sociedade passo-fundense, por nele habitar figuras interessantes, como:
Maria Bigode (de faca na bota); Maria
Preta (figura berrante e mística de cor
de jambo); Maria Zeca Navalha (responsável
pelo controle das regras da casa e, quando necessário, puxava a navalha e
cortava os desobedientes); Alice Miranda (dançarina e cantora); Heloísa dos Cachorros (deitava com os homens sem dispensar a presença dos cachorros).
Além das tantas mulheres, havia o Trovador, no bar amoroso: “as mulheres escreviam o seu nome nas
paredes e muros e, por cima, selavam o registro com batom.”
A arte de Ruth Schneider está centrada
na sua memória afetiva, na representação da diversão lá existente e nos
preconceitos de uma cidade em momento de desigualdades e repressão. Para
Armindo Trevisan, em comentário registrado na obra, “ela sabe ser ferina sem deixar de exibir, no âmago de seu festival
burlesco, um tom de ternura...”
Outra passagem interessante encontrado
no livro é a da costureira Elvira, que confeccionava os mais lindos vestidos,
sem fazer distinção entre as mulheres da “zona” e as da sociedade, ressaltando
na obra de Ruth, mais a diferença superior do homem, na época, do que
propriamente a “dor moral”; apenas o material e distintivo.
Ler O Cassino da Maroca é
lembrar além do que ouvimos sobre o passado, através de imagens - na farta
ilustração da autora – e palavras, como estigmas arraigadas na cultura
regional. Convite para descobrir a história da cafetina e suas meretrizes, bem
como as reações ardentes que suas atividades despertavam e desencadeavam nos
“clientes”.
Conta a “lenda” que “Maroca viu o casal se esfregando no salão
do Cassino, o que era contra as regras casa; então, gritou: parem com essa
pouca vergonha! Isto aqui não é o Clube Comercial! É uma casa de respeito!!”
1 Comentário
Sou filho de RUTH SCHNEIDER e agora criei um canal no YOUTUBE da mãe com alguns vídeos! Comentem! Curtam! Compartilhem! RUTH SCHNEIDER!! INSCREVAM NO CANAL!
Postar um comentário