domingo, 7 de novembro de 2010

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SÓ DESSA VEZ

Anjos e meninas despencam da janela do sétimo andar
E um vento audaz corta as asas e os corpos
Estou sentado na calçada
e tento montar o quebra-cabeças da nossa vida que rasguei.
corre comigo que eu corro contigo...
sonhos pingando das torneiras...
colchas remendadas no centro...
E um cheiro amargo de manhã que me estupra as retinas.
Estou só e mal acompanhado
Com o gosto do teu gozo escorrendo dos lábios
E o cheiro dos teus dedos me afagando os cabelos...

Teu sorriso constrói manhãs...
Teu sorriso cura os doentes...
Teu sorriso canoniza meninos de rua,
E me cura do espólio ardente do pó.

Anjos e meninas despencam
E um vaga-lume acaricia o piano
Enquanto os bem-te-vis, imitando o som de um corvo,
Repetem “never more”.

Manhã de morte em mim
Ao mesmo tempo em que uma menina compra pão
Manhã de morte em mim
Enquanto o investigador pede um pingado
Manhã de morte em mim
Enquanto o mendigo revive na primeira pinga do dia
As amarguras dos cinqüenta e dois anos anteriores.

Flor de ir embora
Teu reflexo partido no espelho em doze mil ilusões
E eu desencantado sem saber bem o que fazer com as mãos
(Eu tenho doze mãos)
Então a porta se fecha e o espelho reflete a porta,
E a porta está sempre fechada.
O mundo é teu, menina
Tudo o que posso fazer é estender teu vestido vazio e vermelho na parede da sala.
Na imagem da memória,
Você tem dez anos e se balança em frente a um campo de rosas,
BRANCAS, dessa vez.
Só dessa vez...



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