quarta-feira, 15 de julho de 2015

PALAVRAS MORTAS
por Tânia Du Bois

Para Paulo Monteiro

Escolho os livros e me reencontro com os autores de vários estilos, sinto que todos são sensíveis, criativos, imitadores da natureza e aprendizes do tempo. Eles têm hora marcada comigo, na minha leitura. Às vezes, deixo de fazer algo na minha rotina apenas para ser capaz de continuar lendo e, consequentemente, vivenciar as suas palavras.
Sempre me pergunto o que significa talento? Nilto Maciel responde que “são chamados de escritores talentosos aqueles que em vez de ter vida social, preferem livros. Nada inventam, porém sabem descobrir modelos (que a maioria nem percebe), artifícios de linguagem, entradas e saídas (labirintos), técnicas de narrar e compor poemas...”.
A ideia é a respiração do autor na imaginação do leitor como possibilidade individual para encontrar resposta de um dos maiores mistérios do universo: o que está por trás do pensamento?
O escritor e historiador Paulo Monteiro diz que quando o autor coloca as ideias no papel, elas se tornam palavras mortas. Essa perspectiva leva ao entendimento de que o leitor dá novo significado ao caminho histórico e reflexivo entre o passado e o presente. Também referencia os conceitos de liberdade e expressão, chamando atenção para os valores e à acolhida das palavras na conquista para transformar a razão em viés intelectual, transfigurada na busca entre as vozes em leitura de visibilidade, onde a retórica do escritor é o mundo na representação do exercício para a definição da verdade. Encontro no ensaio de Gilberto Cunha “O nascimento do leitor”, Ronald Barthes com “A morte do Autor”, em que diz, “O nascimento do leitor tem de pagar-se com a morte do Autor“; e Gilberto Cunha completa que “É o leitor essa figura que surge com a morte do autor, que vai dar a um texto as suas múltiplas significações”.
A voz do leitor evidencia que a liberdade de expressão fornece bases para a fundamentação consistente no entendimento do significado e resignificante da palavra, intimamente, conectada à cultura.
Nilto Maciel expressa, “... tudo existe por uma necessidade. Nada se cria para ser inutilidade. Mesmo aquilo que alguns (ou a maioria) abominam... A linguagem também cria ou recria continuamente, por necessidade de comunicação”.
Assim, o autor assume a construção e o ineditismo no modo como explora o assunto ao desenvolver o pensamento: palavras mortas que por sua vez reforçam a escrita como ponto de referência. Segundo Cunha, “... a relevância de um texto não resistir em sua origem (o autor), mas sim o seu destino (o leitor)”.
Talvez seja pertinente refletir o mundo como um livro a ser reescrito; como se pudesse haver tal mundo à parte da obra, embutido no inverso sentido, no eclodir a culminância da linguagem frente a versões cerceadoras, fosse um manifesto de impressões. Na visão de Gilberto Cunha, “autor morto, leitor posto... apagou a leitura do autor em proveito do escritor, que morre ou encerra seu papel quando o texto é posto em circulação...”
Assim, as palavras mortas estão inseridas na vida do escritor e do leitor, através do talento de cada um na arte de escrever e na arte de ler que, por sua vez, reforça o caráter, o senso de realidade e a responsabilidade pela construção ao levar as palavras mortas para a disputa com o leitor; são elas que reforçam na leitura a predisposição para a participação do leitor nas ações reflexivas do autor. Como demonstra Paulo Tarso, “a letra mata o espírito vivifica”.

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