Continuando
o que dizer – 1.
A vizinha hoje
não abriu a janela com estardalhaço. Talvez por causa da pequena chuva – pequena
chuva! -, vamos dizer: fina garoa que cai sobre a cabeça da cidade farta de
água, inundação e deslizamento. Estardalhaço... A primeira vez que ouvi pensei
que algo estava acontecendo no quintal. Logo de manhã, ali pelas sete horas ou
oito horas, ela abre a janela e as folhas batem com estrondo na parede, talvez
do quarto. Tem dias que ela se esquece de prender as folhas naqueles, não sei o
nome, ganchos que tem uma cabeça sei lá o que, não sei, ou as folhas se soltam
e conforme o vento fica batendo por um longo tempo, até que ela lembra e prende
de novo. Portanto, hoje a janela está fechada. Esperando que o sol revele a
beleza do seu brilho e espante a umidade que já apresenta uma crosta verde pelo
quintal todo.
A chuva tem um
quê de tristeza, um quê de algo que não sei dizer. Há uma distância que me
separa e prende. Separa do mistério que há no caminho por onde passei e,
prende-me no mistério do caminho que ainda há para ser palmilhado. Separa
porque pensei serem eternos os passos na companhia da vida que tínhamos a
frente. Louco ao pensar na barbaridade de acreditar nos sentimentos que nunca
são eternos. Preso no caminho sem sentir os passos que outrora me acompanhava.
E nesse separe e prende há a nostalgia dos diálogos de olhares onde as mãos
agiam conforme as palavras eram pronunciadas no sussurro do quarto.
A vizinha hoje
não abriu a janela com estardalhaço, quem sabe amanhã ela abre a janela e,
saberei que terei muito ainda o que dizer.
pastorelli
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