sábado, 13 de fevereiro de 2010

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Beatriz Bajo

uma gravidez soterrada
três dias cravados
em dois seres
a realidade caindo sobre elas
impondo-se goela
abaixo
de todas as pedras

pairam guardando os medos
escandalosos rachando
as certezas
sólidas
o mundo caindo duramente
radicalmente
em suas cabeças tão perplexas

a vida pulsa sob o caos como
o uivo da fera
arreganhado solo
que tange acordes dissonantes
que tinge com cores quentes
o chão latejante

reclamando faltas dedilhadas
nos feitiços amargos
que ensejam sobreviventes
cacos de gente
que se cortam que se matam
que se desprendem da história
para a tela mais desolada
manchada de terrosa ferida

adormecida
na tez de torturadas vozes
baila a carne inócua
no salão de açoite febril
mergulhada de insensatez
dentro de outro solo
quase
estéril
que permanece em prenhez


[ Sobre a autora, leia aqui ]


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