segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

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Luisa Proença
















Balada
Luisa Proença

Mirtilos sangram no monte
Animais recolhem à toca
As árvores pingam salgadas
Água chove desgraçada

No horizonte molhado
O mocho pousa de costas
Soberbamente sentado
Indiferente ao que se passa

Agoira e faz de diabo

Sinos repicam inferno
Os anjos saem em dor
A santa de pau queimada
No calor de Verão que volta

A brunir o meu pecado

Os gatos negros morrem
As fadas encharcam de fé
O maldito coração pára
Deixa de pulsar bebé

No berço murcham as rendas
O lençol de pano branco
Que há pouco acariciava
Meu corpo de fada mirrado

Me faz de enforcada

A menina almoça sozinha
Olha o vazio e as imagens
Desfilam na sala vazia
Transformadas em fantasmas

As longas tranças pesadas
Os ombros puídos de medo
Almotolia de graças
Polidas no desespero

Veste de negro e de nada

Cai em pétalas a noite
Arrasta o ser e a pele
Desfaz em curvas de água
No rio longo da ideia

De nunca mais ser lembrada

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