domingo, 7 de março de 2010

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Nada - Alexandre Eduardo Weiss

Alexandre Eduardo Weiss .



























Nada sobrou. Nada.

Tudo destruído: o que fora um dia um planeta com enorme biodiversidade e uma raça “especial” de animais – autodenominados seres humanos – que nele ergueram cidades, criaram sistemas de transporte e comunicação que envolveram todo o globo; tornaram o planeta adaptado às suas necessidades, em constante crescimento; o chamavam de mundo “civilizado”, mas o encheram com uma quantidade criminosa, irresponsável, estúpida, absurdamente alta de porcarias e lixos venenosos, e foi tanto, que, enfim, tiveram o destino que mereciam: sumiram, desapareceram.

E foram tarde.

Pobre natureza, se os animais e os vegetais podem mesmo sentir algum tipo de terror pelo que presenciaram – existiam muitas provas a favor - então os que sobraram foram extenuados em sua capacidade de se horrorizar.

E o que sobrou nos últimos instantes da natureza foram apenas alguns poucos insetos, restos de vegetação semi-carbonizada aqui e ali e muita poeira no ar, muita poeira.

Negra, da cor da escuridão.

Depois dos furacões e terremotos, erupções vulcânicas e tsunamis que ocorreram em massa, quase nada que era vivo resistiu. Um clichê. Como nos filmes de Hollywood. Quando o ar se encheu da poeira opaca da fuligem dos incêndios causados por jatos de lavas vulcânicas lançados a enormes distancias por gigantescos vulcões que afloraram qual fratura exposta após o início da grande onda de cataclismos que varreu toda a crosta terrestre, a luz do sol não penetra mais na atmosfera e em breve até os derradeiros insetos e micro organismos irão morrer. Foi quebrada de forma irrecuperável a cadeia de vida e as características fisioclimáticas que mantinham o frágil equilíbrio que dava sustentabilidade a natureza.

Tudo vazio.

Nem urubus nem ratos.

Nem bosta nem capim.

Nada. Um planeta sem vida.

Ninguém pra ler estas palavras.

Ninguém pra olhá-las com desdém.

A página na qual este texto está escrito, milagrosamente foi arrastada por uma fortíssima corrente de ar de cima da mesa do escritório de uma casa vazia e, antes que esta fosse engolida por um terremoto inimaginável, pela janela sem vidros, entre os escombros, saiu, voou pelo ar e subiu acima da poeira negra, como folha seca no vento viajou pelo espaço e, depois de um tempo sem fim, pousou, suavemente, numa superfície lisa de gelo novo, congelando instantaneamente, e ali permaneceu, intacta. Depois de milhões de séculos ainda é visível na transparência vitrificada do glaciar.
Talvez, daqui a bilhões de anos, outros seres, quem sabe, a encontrem, e passem milênios tentando decifrar o que estes pequenos símbolos agregados representavam.



IMAGEM: Mariusz Szymaszek

1 Comentário

Paola Rhoden

Dá medo em pensar nisso. Mas é a pura verdade. Abs.