José Gil.
a actriz avança no nevoeiro que se levanta
traz a sua luz de glória perde-se no “não
se paga. não se paga”, avança como um navio
no cais, grande e leve para navegar do guincho
ao ginjal. a actriz viaja no meu país de
remendos e de pedras , meu país sem água
e sem sede e sem fé – tudo dorme na flor
da inveja e do ciúme, o pais não pode produzir
cultura nem a sua dor fina. Dobra irmão o bico
à publica, à claridade imunda dos parasitas
mediáticos da verdade absoluta. “Deve ser assim
Assim não”.todos se sentam no seu banquinho de
Excelências e vinho. Meu país indeferido e infinito
Que levanta a poeira para lá da língua de todo o
Mundo. E nada. Sintra é maravilhoso na primavera.
O Algarve é maravilhoso no verão. A actriz morreu
No total desprezo Ela ainda avança no palco dos
Que ficam, pequenos navios ao largo do Tejo
Barcaças, barcos á vela. Se eles andam eu já vou
Neles. Adeus amigos, pátria dos amigos, enfia-me
A faca pelas costas como uma ousadia contra o
Esquecimento. Avanço já nos ribeiros do meu amor
Pequenino, vê como voo na pátria doente da erva
Daninha e dos cigarros amarelos
A casa abandonada para novos esquecimentos
Esqueço-me de mim no navio que deixa Lisboa, a capital
O sol nasce ainda devagar chega a actriz do “Não se pode
Extermina-lo” meu país ao pé do Intermarché, os passeios
Cheios de carros e de cegos. Bonita é a Fuzeta, partiu-se o
Aduelo, a moldura da porta aberta.
Não sou escravo do poema. Trabalho-o há três dias
no dia em que sobra o pão a floresta da esteva
a flor da estepe, o teu figo, pela flor de cada
figo fechado basta-me a flor do teu mamilo
adoro a minha pátria dos artistas doces e das
cobras – compõe casas simples e pequeninas
o milagre da pátria está para lá da alma certa
entra o josé
sai o josé
o tempo avança
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Imagem: Tim Holte
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