sexta-feira, 16 de abril de 2010

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SILÊNCIO ESPIRITUAL - Noelio A. de Mello


O comportamento da alma humana me surpreende a cada momento. Fico imaginando porque muitas pessoas temem falar das suas dores, dos seus medos, das suas tristezas, dos seus momentos de infortúnios. Contar suas alegrias, mostrar seus corações em festa, suas vitórias, é absolutamente fácil para todos. Muitos, entretanto, evitam comentar sobre os fardos que carregam, se negam a mostrar o cansaço das suas vidas quando a danada de uma saudade os ferem a cada amanhecer, negam desamores, fantasiam a solidão. Escondidas, muitas enxugam suas lágrimas no lençol da madrugada, tatuando nas paredes silenciosas dos seus espíritos o triste calendário que marcam seus dias, a insipidez das suas noites.

Porque será que tantos vivem a encenar esse estúpido teatro espiritual, quando tantos ouvidos sensíveis estão prontos para ouvir seus lamentos? Qual a causa de se esconder o cair de uma lágrima se pode haver um lenço amigo para ser o seu berço macio? Qual o motivo de fingirem viver nas margens de um doce remanso, quando seus sonhos viraram náufragos do mais revolto dos oceanos? Porque esconder as suas angústias, as suas tristezas, as suas mãos enfraquecidas, tímidas, se tantas mãos fortes, amigas, poderão estar estendidas oferecendo sua parceria, sua luz, seu aperto fraterno?

Um conhecido certa vez disse-me que evitava falar das suas dificuldades com receio de que os amigos se afastassem dele. Talvez temesse que ficassem a falar pelas suas costas, das suas confissões de dores, do seu desabafo, das duras verdades da sua vida. Aparentava preferir conviver com seus infortúnios passeando no subterrâneo da sua alma que escancará-los aos ventos do mundo. Ficou claro que esse coração amargurado desacredita que possa existir as amizades verdadeiras, sem segundas intenções, sem a moeda de troca.

Embora sempre procure caminhar pegando carona na sombra da felicidade, não temo falar das minhas desesperanças, das minhas tristezas, das minhas perdas. Se dividimos nossas alegrias, façamos o mesmo com nossas dificuldades, com nossas incertezas. Não desacredito em muitos anjos de luz, terrenos e celestiais, que sempre estarão prontos a nos oferecer seu conforto.

Nunca, é verdade, devemos desistir das nossas alegrias, dos nossos anseios, dos momentos felizes. O incorreto, o insensato, é andarmos sempre pelas estradas das inverdades, dos desenganos. Como sempre é momento de refletir, que não tentemos enganar o nosso espírito, o nosso coração, escondendo nosso choro nos travesseiros macios. Vamos deixar o mundo ouvir o nosso alarido. Se tivermos amigos de verdade eles escutarão o nosso grito.

Quando acharmos que nossa tristeza é definitiva, pensemos em Rubens Alves quando diz que - Os artistas são feiticeiros que tentam parar o crepúsculo. Eternalizar o efémero. Todas as vezes que ouço aquela música ou leio aquele poema, o passado ressuscita. A beleza da arte nasce da tristeza. Se não houvesse tristeza, não haveria arte-

Alegria e tristeza, portanto, são momentos, reais fragmentos na vida de todas as pessoas. Quando elas surgirem vamos roubar-lhes definitivamente o que elas tem de melhor e prosseguir nossa caminhada. O importante é que não escondamos nossos sentimentos. Se é momento de alegria vamos comemorar a vida. Quando a dor bater no nosso peito vamos escancarar o nosso interior, para que não soframos como a pedra, que mesmo lutando bravamente, não resiste ao impacto da impetuosidade das águas.

1 Comentário

Jorge Xerxes

Noélio, Uma Bela Crônica! Destaco: "Contar suas alegrias, mostrar seus corações em festa, suas vitórias, é absolutamente fácil para todos. Muitos, entretanto, evitam comentar sobre os fardos que carregam, se negam a mostrar o cansaço das suas vidas quando a danada de uma saudade os ferem a cada amanhecer, negam desamores, fantasiam a solidão." "Se dividimos nossas alegrias, façamos o mesmo com nossas dificuldades, com nossas incertezas. Não desacredito em muitos anjos de luz, terrenos e celestiais, que sempre estarão prontos a nos oferecer seu conforto." Concordo Contigo. Um Abraço Fraterno! Jorge X