Como era bom aquele tempo! A vida fluía leve sem preocupação. Correr atrás da bola, jogar gude, brincar de boneca, subir na mangueira e escorregar... Tempo de criança é assim. Tudo se transforma em motivo para brincar, soltar o riso, escancarar felicidade, mesmo que por um segundo, apenas um "segundinho".
Brinquedo comprado em loja era coisa rara. Na fazenda, a boneca de pano tinha espaço carinhoso. De colo em colo, se transformava num bebê que as meninas, no papel de mamães, adoravam. Era banho de mentirinha, comida de mentirinha, amamentação de mentirinha, soneca de mentirinha...
Num distante Natal, a garota do meio ganhou uma boneca de louça, daquelas de cabelo que pente nenhum desembaraça. O presente da irmã caçula foi uma bonequinha, de cabelo igualzinho. Uma virou "mãe". A outra, filha. Um certo dia, para tristeza, a boneca maior, Lili, apareceu sem o pé.
Foi muito triste. Ver Lili mancando era um sofrimento sem igual. No universo fértil da infância, ela imaginava a dor que o brinquedo sentia. Tudo ficou mais grave porque o pé sumiu e agora era impossível livrar a boneca desse tormento.
Mesmo assim, cuidou de Lili. Levava para todo canto. Sabe o que aconteceu? Um dia, quando tomava banho no Rio Pardo, viu algo brilhante boiando pertinho. Ficou na maior alegria. Era o pezinho da boneca. Mas aí apareceu um peixe grande e engoliu o pé de Lili. Sua primeira boneca de louça ficou manca para sempre. (Foto: Flickr)
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