sexta-feira, 21 de maio de 2010

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A Dama do Metrô - 9

 Osvaldo Pastorelli.

Imagem: Nancy Torres.

Gemia. E como gemia! Meu Deus será que não vai parar – gritou o pensamento aflito macerando o cérebro. Já faz mais de vinte minutos dentro dela e nada. Caçamba! Ela ajudava, incentivava acariciando as costas. Audaciosa levou o dedo entre as nádegas mole que chacoalhavam parecendo gelatina. O pior era agüentar o peso e o bafo de cigarro mordiscando o lóbulo da orelha. Credo! Ainda bem que vai pagar, não reclamou o que pedira, portanto tinha que agüentar.

Será que era dessa maneira com as profissionais da noite? Combinavam, entravam no quarto, se despiam e, vapt e vput, nada mais? Por sorte conseguira alugar esse modesto quarto nas proximidades. A única exigência do proprietário era para limpeza. Ela tinha que cuidar em deixar o quarto limpo como encontrou.

De repente os gemidos cessaram. Como uma sirene, o cara começou a berrar num oh bem prolongado que não acabava mais. Depois, se soltou em cima dela, pousando a cabeça em seu peito. Ufa! Até que em fim, disse mentalmente. Dali a pouco notou, o cara estava dormindo, começava a roncar. Oh! Meu, ta pensando o que, sai de cima de mim, hei, tenho que ir trabalhar vamos levante. Deu um safanão no coitado que, assustado, tropeçou ao se levantar. Agora no banheiro vai se lavar e deixar essa meleca de camisinha jogada no chão e, eu é que vou catar. Que merda!

No metrô o cara era outro. Todo engravatado, cheio de gentileza, boa conversa, falaram de vários assuntos durante o trajeto, até que, por sua iniciativa, bem displicentemente, forçou o cara a fazer o convite. Não respondeu logo de imediato, fez um pouco de suspense, retesou até onde pode a surpresa, apenas para ver a reação dele. Dos olhos chispavam fagulhas de sexo atraente. E quando ela disse sim, e jogou a oferta num preço que, para ela, imaginava alto, ele sem pensar um minuto aceitou. Antes não tivesse aceitado, mas... Como dizia o ditado: quem sai na chuva é para se molhar.

Quinze minutos depois, todo lépido e limpo, ele saiu do banheiro. Com gestos enfadonhos, cheios de extravagância metódica, vestiu a roupa. Olhou-se várias vezes no espelho vaidoso contente com ele mesmo. Tirou a carteira do bolso, separou o dinheiro, beijou o rosto dela de leve, depositou em suas mãos o dinheiro. E sem dizer uma palavra, saiu batendo a porta.

Assim que o som da porta, dentro do silêncio que se fez em seguida, morreu num fundo do corredor da mente dela, foi tomada de uma sensação de perda, como se um pedaço tivesse sido arrancado. Respirou fundo, entrou no banheiro, tomou um banho, de pelos menos, vinte minutos, se enxugou, se vestiu, guardou o dinheiro na bolsa e, desceu.

Na rua o sol brilhava monotonamente entre o vai e vem da cidade já desperta.



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