Foi um verão diferente, daqueles que fica para sempre. Uma moto entrou na cidade despertando curiosidade. A moto silenciosa e eu indiferente. Era tudo preto: o capacete, a roupa e o violão ao lado. Assustei-me com o homem da moto que parou para me dar passagem. Tirou seu capacete preto e vi um homem bonito, já feito na vida. Seus olhos, de um azul indefeso, casaram com os meus castanhos criando uma cor diferente. Achei mesmo que os anjos deveriam ter lhe emprestado a cor daqueles olhos. Ou talvez o demônio. Perguntou meu nome. Patrícia, respondi suada. Menina bonita com nome bonito, escutei calada. Acanhada, atravessei a rua agradecida em direção aos amigos que esperavam aborrecidos. Virei para olhar o homem bonito que me observava como se seu rumo houvesse perdido. Onde eu estivesse àquela moto passava sem pressa, me olhando com um sorriso de parar para pensar. Sua presença me deixava inquieta, assim como a sua ausência.
Sentada na areia da praia numa tarde nublada, senti a presença do homem da moto com o olhar em mim fixado. Pegou seu violão calado e tocou Espere por mim morena .Depois,olhou-me sorrindo: vou me congelar para te esperar. Sorri de volta e o homem bonito caiu na estrada para nunca mais voltar.
Tive vontade de conhecer o desconhecido que deixou um vazio no meu caminho. Quando escuto àquela canção logo imagino que o homem bonito da moto preta com olhar de mar virá me buscar. Será?
sexta-feira, 28 de maio de 2010
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Patrícia Amorim - Espere por mim morena
autor(a): PATRICIA ROCHA DE AMORIM
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2 comentários
Será? Eis a dúvida que, enquanto dúvida, nos move e nos instiga a seguir nossos caminhos esperando por reencontros ou respostas.
Lindo texto, parece ter um tom nostálgico, constrói bem as imagens e é extremamente sensível. Imaginei os olhos do homem...
Patrícia, saudades!
Beijos grande!!
O que será que será/ que vive nas ideias desses amantes/
que cantam os poetas mais delirantes/ (...). O finalzinho do conto trouxe-me de súbito esse trecho da canção do Chico Buarque, inevitável. Ah, minha querida, teus textos realmente têm ritmo e gosto. E num suspiro do seu eu-lírico, você nos dá esse ato tão íntimo, esse amor tão cheio de impasses e dúvidas. Gracias!
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