segunda-feira, 10 de maio de 2010

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Leonardo Boff - O ano cósmico e nós



Leonardo Boff .
Teólogo .   
GANHAR DISTÂNCIA PARA VER MELHOR  




Todos estamos angustiados com as crises pelas quais passa a Mãe Terra e a vida humana. E temos boas razões para tanto pois estamos nos confrontando com um futuro que pode ser de vida ou de morte. Para vermos melhor a situação, temos que ganhar um pouco de distância. Vamos comprimir os mais de 13 bilhões de anos de existência do universo num único ano cósmico. Vamos ver como ao longo dos meses foram surgindo todos os seres até os últimos segundos do último minuto do último dia do ano. Vejamos como fica o cenário que um cosmólogo amigo me ajudou a calcular.

A primeiro de janeiro ocorreu a Grande Explosão (o big bang).
A primeiro de março surgiram as grandes estrelas vermelhas que depois explodiram e de seus elementos, lançados em todas as direções, se formou o atual universo.
A 8 de maio, surgiu a Via Láctea, uma entre cem bilhões.
A 9 setembro, nasceu o Sol, o centro de nosso sistema.
A 1 de outubro, nasceu a Terra, o terceiro planeta do Sol.
A 29 de outubro, irrompeu a vida no seio de um oceano primevo.
A 21 de dezembro, surgiram os peixes.
A 28 de dezembro às 8.00 horas, vieram os mamíferos.
A 28 de dezembro às 18,00 horas, voaram os pássaros.
A 31 de dezembro às 17.00 horas nasceram nossos antepassados pre-humanos, os antropóides.
A 31 de dezembro às 22.00 horas entra em cena o ser humano primitivo, o australo-piteco.
A 31 de dezembro às 23 horas, 58 minutos e 10 segundos surgiu o ser humano de hoje chamado de sapiens sapiens, portador de consciência reflexa.
A 31 de dezembro às 23.00 horas, 59 minutos e 6 segundos nasceu Jesus Cristo, figura central do cristianismo e para os cristãos o salvador do mundo.
A 31 de dezembro às 23.00 horas 59 minutos e 59,02 segundos Pedro Alvares Cabral chegou ao Brasil.
A 31 de dezembro às 23.00 hors e 59 minutos e 59,03 segundos a Europa começou a ser uma sociedade industrial e a expandir seu poder, explorando o mundo e criando o atual fosso entre ricos e pobres.
A 31 de dezembro às 23 horas, 59 minutos e 59,54 segundos, se fez a Independência do Brasil.
A 31 de dezembro às 23 horas, 59 minutos e 59,56 segundos (a partir de 1950) o ritmo da exploração e devastação ecológica se acelerou dramaticamente.
A 31 de dezembro, às 23 horas, 59 minutos e 59,58 segundos Lula foi eleito Presidente, um operário no poder. Pouco depois se constatou o perigoso aquecimento global que pode ameaçar o futuro da civilização.
A 31 de dezembro às 23 horas, 59 minutos e 59,59 segundos viemos nós ao mundo.

O sentido desta leitura é desbancar o antropocentrismo, quer dizer, aquela visão que empresta valor intrínseco somente ao ser humano e tudo o mais é colocado a seu serviço. A história do universo mostra que não é bem assim. Ele é um dos últimos seres a surgir e se insere no movimento geral do cosmos. Mas possui uma singularidade: só ele sabe conscientemente desta história e seu lugar no tempo. E se sente responsável pelo curso bom ou desastroso da Terra.

O tempo humano é mais curto que um leve suspiro de criança. Mesmo assim surge em nós um sentimento de gratidão para com o universo que organizou todas as coisas de tal forma que nós pudéssemos agora estar aqui para pensar e se admirar estas maravilhas, cheios de respeito e de reverência.

E não estamos sozinhos. O universo nos deu tantos companheiros e companheiras que são as estrelas, os animais, as plantas, os pássaros e os seres humanos, todos formados pelos mesmos elementos cósmicos. Somos um grande Todo.

Esse Todo terrestre não pode acabar miseravelmente pela nossa irresponsabilidade. Vamos superar a crise e continuar a viver e a brilhar, pois nosso berço está nas estrelas.



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