quinta-feira, 13 de maio de 2010

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Valentine's Day - Sônia Pillon

Sônia Pillon.





CONTOS DE SOLIDÃO
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- Valentine's Day -




Da janela da varanda, o vidro está banhado pela água da chuva. Os pingos escorrem um após o outro, rapidamente, enquanto o céu cinzento, os relâmpagos e os ventos uivantes sacodem as folhas das árvores. Acho que tão cedo não vou esquecer dessa chuvosa tarde de verão. Que coincidência irônica, pensei. O mau tempo parece combinar com o meu estado de espírito, como se solidarizasse com a minha dor, lancinante, dilacerante...

A água que escorre pela vidraça se confunde com as lágrimas que insistem em cair pelo meu rosto, involuntariamente, por mais que eu as tente reprimir, por mais que eu não queira derramá-las. Chorar para que? Odeio me sentir assim, refém das próprias emoções! Não combina comigo. Não combina com a vida que escolhi para mim.

Hoje todos estão comemorando o Valentine's Day, e o meu coração está apertado desde que acordei. O que mais vi foram flores, flores e mais flores, embaladas em belos ramalhetes, ou em vasos enfeitados... Casais apaixonados sorrindo pelas ruas. Um ar de felicidade no ar, acintoso, ferino. Até a minha vizinha da frente recebeu rosas vermelhas. Logo ela, que só pensa em trabalho?! E eu é que tive de receber a entrega!... Não é ironia demais?...

E pensar que no ano passado, no Valentine's Day, eu estava transbordando de felicidade ao lado dele, naquele inesquecível jantar à luz de velas, saboreando aquela comidinha chinesa e bebendo aquele vinho rosè, que venceu as minhas últimas resistências... Como esquecer a magia daquela noite, e de tantas outras em que nos entregamos àquela tórrida paixão, esquecendo o mundo ao redor?...

Ah!... No início, ficava contando as horas, os minutos e os segundos de cada dia, que pareciam intermináveis, até ele tocar a campainha. Bastava um olhar, um toque, e um turbilhão de emoções tomava conta de nossos corpos e de nossas almas... Tudo parecia tão perfeito naquela época!...

Claro que esse idílio não poderia durar para sempre. Quando a gente se conheceu, e se envolveu, acreditava que todas as diferenças podiam ser superadas. Mas não é o que todo mundo pensa quando está cego pela paixão?

Mas logo vieram os ciúmes, as brigas, as cobranças de um lado e de outro... No começo eu até que tolerava aquele futebol todo o santo domingo. Mas com o tempo ele passou a se ausentar o dia todo. Eu ficava em casa, vendo televisão. Que tédio! Depois ele começou a sair sozinho nos sábados também... Aquele bafo de cerveja quando voltava para casa, sempre bem tarde e supercansado... Estava na cara que tinha mais alguém na jogada... Foi a decisão mais difícil da minha vida, mas não dava mais!...

A chuva continua caindo lá fora, porém com menos intensidade. Fico olhando distraída o movimento dos carros, enquanto imagens em flashback tomam conta dos meus pensamentos por alguns minutos.

Ainda há nuvens no céu, mas lá no fundo já dá para ver o arco-íris se formando. Respiro fundo e solto o ar lentamente. Enxugo as lágrimas e fico admirando as cores do arco-íris. Amanhã acho que vou dar uma passada no shopping. Estou precisando dar uma repaginada no meu visual.



Imagem: Olga Gouskova

4 comentários

Anônimo

Olá. Gostei muito desse texto. Apesar de enfocar um tema comum (a dor-de-cotovelo) é fino no trato, um tanto ingênuo, é verdade, mas bem simples & tocante. Saludos & Parabéns. Maria José Limeira.

jorge vicente

Mais um belo texto seu, Amiga.

Grande abraço para ti!!!!
Jorge

SÔNIA PILLON

Obrigada pelos comentários, Maria e Jorge! Me sinto estimulada a continuar escrevendo e aprimorando a escrita... :)

Anônimo

Amei teu conto...