quinta-feira, 24 de junho de 2010

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Lílian Maial - SUBMERSOS

























A chuva crava pingos-pregos na carne da palavra. Cala impiedoso deságüe. Total atrevimento, irrequietas águas. O Rio submerso.
A terra, ferida terra, sangra húmus e homens. Nada se move. O homem é grão. O lixo é o pão. Recende a lama, lágrima, escansão.
Um Rio celeste encharca a poesia. Respingam versos na falta de espaço. Entre prédios e barracos soçobra um infiltrado de (m)águas. Espirra, nos olhos do dia, o espanto desolado.
Na correnteza, um pequeno galho flutua o absurdo. Puxa a rotina e as certezas. Afundadas em si, poças de esperança. Espelho d’água. Reflete e transborda. Arranca, joga e (des)mata.Dói abrir a janela. A realidade inundada. Ao útero da terra retornam em silêncio.
A chaga se desvanece líquida.Nada a fazer, senão lavar a sujeira, enxugar o grito, evaporar.
Navegar é preciso.





Imagem: mudslide, morro de Mangueira







3 comentários

Efigênia Coutinho ( Mallemont )

Olá Lilian, quando li este, logo que voce escreveu, como sou carioca, morando fora do meu Rio de janeiro a 30 anos, fiquei sim, apavorada,pois sei do drama deste povo afavelado do Rio,
Valeu ,
Efigenia

Unknown

Estimada Lilian, aplaudo e parabenizo pela beleza de seus versos e sua grande sensibilidade
poética. Abraços. Maria Luiza Bonini

Marilda Confortin

Terra e palavra misturadas num rio de metáforas formando um barro poético. Belezaa de texto. Tristeza de realidade.
Beijo poeta poderosa.