Areia branca, areia fina
pés descalços não querem fronteiras
percalços de uma vida livre
a caminho de Itapuã.
E lá se vai
o coração sem prumo
sangrando lentamente
a areia da ampulheta do destino
com grãos pequeninos,
feito resquícios
dos meninos de um Buñuel esquecido
saga de muita miséria e poesia,
sacolé de morango esparramado
nas escadarias da Rocinha
impertinentes memórias
que o vento insiste em varrer das mentes
tufaneando um outono modorrento
erguendo poeira do canteiro de obras
da Catedral da Sagrada Família
embaçando o olhar sagrado
das freiras catalãs
que não sabem dos Lençóis Maranhenses
nem dos vodus encomendados em Codó
mas conhecem a fama das ciganas romenas
que buscam nas linhas das mãos
segredos de um sobreviver sem ansiedade
de se deixar rolar nas dunas de Morro Branco
e ser aprisionado dentro das garrafas
de finas areias coloridas
que por fim serão lançadas ao mar
para que não fiquem imóveis
sobre os móveis empoeirados
das casas humildes
e sigam boiando, horizonte adentro,
numa travessia que não tem fim.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
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Areias andarilhas
autor(a): Betusko
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