domingo, 18 de julho de 2010

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FILOBÔNIO FILÓ - parte 08

- ilusão

os urbanóicos abrem suas janelas e enxergam cidade,
enxergam prédios e torres e antenas parabólicas. Só isso. Mar e
montanha são apenas ilusão.
Filó abre a janela e enxerga mar, enxerga montanha. Ele
consegue. Porque prédios e torres e antenas parabólicas são
apenas ilusão.

- o futuro tem duas rodas

O carro Qual, imponente objeto do desejo, design avançado
entre os avançados, antes de ganhar as ruas da cidade ganha todos
os seus outdoors: O FUTURO TEM QUATRO PORTAS – grita o slogan,
em letras escarlates, bem ao lado da foto do modernoso veículo.
Filó, estimulado pelos outdoors, procura informações na
concessionária:
- O senhor fez uma ótima escolha – diz o vendedor com um
sorriso de hiena. – Qual é líder de mercado, vende como água. E
não é pra menos: duplo air-bag, bancos de couro de lhama,
computador de bordo, ar condicionado e motor 20v etc., et
cetera. Um carro sem igual.
- Quanto custa? – pergunta filó, objetivo.
- Tantos mil – sentencia o vendedor.
Horas mais tarde, voltando pra casa em cima de uma bicicleta
novinha, Filó brinca com o slogan do Qual, adaptando-o às suas
reais condições: O FUTURO TEM DUAS RODAS – é o que ele diz,
sorrindo, entre uma pedalada e outra.

- o sapo da corte

Minha querida amada
Pudesse eu escrever mil cartas como essa, mil e uma cartas
como essa eu escreveria, porque tu mereces sempre algo além dos
limites. Fosse o infinito presenteável, e eu te presentearia com
muito mais, porque não há sistema métrico nesta terra insensível
capaz de medir o amor que pulsa em meu peito.
Sei, doce amada, pareço bobo, mas não é a paixão a mais
deliciosa bobeira? Por teus olhos de deusa, teus encantos sutis,
sou capaz até de criar uma nova corte, só para ser o teu bobo, só
pra te ver sorrindo e receber esse sorriso como pagamento pelos
meus serviços, que nunca serão suficientes diante de tal beleza.
Serei um bobo da corte, sim, porque tu és a minha princesa, a
formosa donzela dona do meu coração! Gostou? Tem mais: pra
colorir a tua primavera, cantarei com voz de pássaro as mais belas
canções, e como um menestrel declamarei os mais ardentes
poemas, inspirados no calor da minha paixão.
Um bobo da corte, sim, mas da tua corte, modestamente
criada por mim como prova do meu mais sincero e imaculado
amor.
do teu bobo
Filó

Cartas como essa Filó escreve aos montes, todo dia, a todo
momento. Exercita-se na nobre arte das cartas amorosas, cria
verdadeiras peças literárias sobre a paixão. Mas como a vida é real
e de viés, ele espera, feito um sapo, pelo beijo da princesa que
ainda nem nome tem.

- filosóficas VII

- amadores: profissionais da dor

- 1965 degraus

No alto da montanha está a igreja.
No pé da montanha está Filó.
1965 degraus separam um do outro.
Três horas mais tarde e dois quilos mais magro, Filó, meio
metro de língua pra fora, está diante de uma igreja fechada, lendo
um recado deixado pelos santos:
- Mudamos lá pra baixo, mais perto dos homens.

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