quarta-feira, 14 de julho de 2010

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Francisco Coimbra - MATÉRIA DO DIZER

Um poema é um rosto, tapeçaria, fachada de edifício, obra em versos. Todas as coisas existem, poucas ganham existência e se destacam como obras de arte. SE. Se soubermos olhar, tudo é obra de arte... À falta de melhor explicação, Deus é o Criador do Universo! Cada coisa nos inspira, a sua presença, a sua simples existência, é revelação e dádiva.

Os poemas, das humanas obras, são das construções mais evidentes do desejo de perpetuar a matéria dum dizer.

O que é que se pede a um poema? Que nos pare... alimentando a nossa atenção, de forma a não nos ficarmos por um conteúdo. Ou seja, contrariamente a todas as outras obras, temos tendência a procurar dentro, sem bem chegarmos a olhar de fora.


Pessoa, no final duma vida dedicada à literatura, deixou um livro publicado. O que foi fazendo? Participações em revistas onde teorizou, analisou, criticou o fazer e o fenómeno poético. Criticado por amigos, por aparecer mais como crítico do que como poeta.

Fernando Pessoa deve ter desejado ensinar a ler o fenómeno poético indo na sua demanda, integrando-se nele, mostrando-se p_arte dele!

Pessoalmente, legou-me este desejo de compreender, desafiando a compreensão, do que seja o "outro" em que todo o autor se transforma para ser "ele mesmo" esse outro, ao qual tenta chegar: autor e leitor.

Entendo este artigo dessa forma, a história da página dum caderno onde escrevo, até a ter escrita. Um texto onde me entretenho a partilhar com o leitor (que também sou) uma visão da procura e recepção do fazer poético.

Se passa para a página seguinte, dum breve artigo passarei a um mais longo, duplo deste cujo suporte está a mudar. No caso, mudarei para a folha seguinte.


Um poema dá a ver um ritmo imprimido... escrita da matéria verbal, pede a compreensão a participação. Sendo matéria do dizer, o poema pede para ser dito. Toda a escrita pede para ser dita (a quem como eu acredita que a palavra ̶ quer ser ouvida, para melhor ser sentida), que a leitura seja prolongada e feita "em voz alta". Deste modo damos vida às palavras do criador, estamos com ele...

Toda a arte, a Poesia em particular, é um lugar religioso do nosso ser. Por ele, arte e poesia, nos religamos unindo à Língua ̶ esta entidade mágica ̶ pessoal e supra-pessoal e vamos mais longe, partilhando a nossa existência com aqueles que partilham da essência do nosso pensamento se, com eles, conseguimos partilhar, ideias, pensamento, desejos e aspirações, através da inspiração ou da mais simples procura duma comunicação que não se satisfaz em seR... simples matéria do dizer, mesmo se saindo do nosso ser. Assim... como se esperássemos um leitor capaz de nos dar a atenção onde vamos estamos ficamos, com ou sem tensão, temos a intenção do texto produzido.

Eu, transformado, transformando-me em redactor dum Actor em Rede, actor na Net da palavra, vou realizando o meu ser... Posso ser seguido e descoberto aos poucos, aqui (in)discretamente faço um balanço biográfico da minha real idade.

Passei de personagem dum conto para autor de contos, conheci o Assim e comecei a tentar escrever Poesia. Agora acompanho a produção poética do Assim & Mim e descobri a Mina na sua prosa onde ousa ir tão longe que, penso conseguirá, deixa de ser "ela mesmo" para ser quem o autor conseguir imaginar. Este autor, um outro ou outra, de corpo inteiro. Ou alguém como eu, tirando de letra...

Tirando de letra, tudo que a palavra dá e a sua realidade promete

R





Imagem: James Koehnline

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