quinta-feira, 8 de julho de 2010

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O experimento da literatura subversiva




Prisioneiro? O leitor subverte a história!


A proposta do presente artigo é pura transgressão: a simples inversão de papéis entre os leitores e o autor. Sim, porque num artigo espera-se a apresentação de uma idéia, opinião ou ponto de vista sobre determinado assunto, pautada pelos elementos argumentativos, que são desenvolvidos ao longo do texto (e aqui nada disso acontece). O que acontece então? Nesse ogitra, porém, o leitor apresenta a sua expressão artística através de uma breve composição literária de qualquer natureza com base num ponto de partida pré-estabelecido. A forma de expressão é livre, a ser postada como comentário ao ogitra. Vale uma crítica, opinião, breve resenha ou composição artística derivada. “Prisioneiro” é o conto emblemático do livro “As Cinqüenta Primeiras Criaturas” publicado neste ano de 2010 pelo autor que vos escreve. Este é o ponto de partida para essa nossa experiência da subversão literária. À medida que o ogitra for tomando forma, apontarei em mensagens públicas – expressas também por comentários – três das melhores composições artísticas. Cada um dos autores (ou leitores?) desses argumentos selecionados será contatado e receberá como prêmio um exemplar do livro supra citado pelo correio (posso autografar, mas aviso de antemão que minha letra é feia). Para começar, deixo a dica de que o conto mencionado encontra-se, em sua versão integral, no website “Palavras Órfãs de Poesia: O que Restou”. Sem mais, convido todos vocês a participarem – e que a Boa Luz Os Ilumine! – Artigo publicado originalmente no “Portal Literal”, Jorge Xerxes, São José dos Campos (SP), 30/06/2010

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O texto ressalta com clareza, o dilema vivido num cárcere semi-aberto por um prisioneiro, que antes do anoitecer tem que voltar para sua cela. É um exemplo claro, mas atípico, de um problema de soma não nula, de modo a aumentar a sua própria vantagem nas saídas diurnas, sem lhe importar o resultado final no seu julgamento. Confessar sua culpa seria uma estratégia dominante, para que o prisioneiro tivesse sua penalidade reduzida na sentença. Aqui é que se encontra o ponto chave do dilema de um prisioneiro: confessar sua culpa para minimizar a perda da liberdade, ou, lidar com a possibilidade de uma dura pena. É útil fazermos uma análise textual aplicada à vida real, onde o prisioneiro é envolvido por muitos processos e, que são todos referentes a situações reais. Sua liberdade passa a ser a ausência de submissão à servidão e determinação que qualifica o ser humano. Pois, para um prisioneiro a liberdade de voltar a ser um indivíduo livre é o mesmo quer ser autônomo, isto é dar a si mesmo as condições a serem seguidas racionalmente. Todos os prisioneiros entendem, mas nenhum homem sabe explicar. Todavia, a liberdade suscita ao homem o poder de se exprimir como tal, e obviamente, na sua totalidade, sendo esta a “meta” dos seus esforços, a sua própria realização. A ação humana é refletida porque o homem pode conhecer os motivos pelos quais age no mundo e, uma vez que os conhece, lida com eles de maneira livre. O agir humano é livre a despeito do princípio de causalidade que rege os fatos de um mundo material. – Solange Gomes da Fonseca, Curitiba (PR), 01/07/2010

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A alegoria do dragão engolindo a própria cauda é emblemática do conto. É uma bela alegoria à questão do conhecimento, ao eterno retorno, uma série de transmutações alquímicas que o próprio conhecimento sofre, no decorrer do tempo. Então, somos prisioneiros de nossa subjetividade. O mundo seria a eterna Coisa em si kantiana, eternamente dependente dos olhos (e da razão do observador) que não consegue atingir a verdade em sua totalidade, porque a verdade depende dos seus sentidos. Daí, as tentativas de criar códigos, linguagens, que diminuam o desconforto de ser prisioneiro de si mesmo e da própria finitude. “Prisoneiro” é realmente uma criatura especial. – André Albuquerque, Recife (PE), 01/07/2010

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O homem, já feito, comemorou o seu quadragésimo aniversário semanas atrás; procurou entre um livro de Tolstoi uma das tantas missivas que recebera de seu tio. Este, que na verdade era seu pai (embora nenhum dos dois desconfiasse disso, pois a progenitora jamais teria a capacidade de trazer à tona a verdade factual: dormira algumas noites com o irmão de seu marido), cumpria uma pena de 30 anos. O homem de agora, era um menino de 10 anos quando viu o tio tão sapiente, sempre às voltas com livros, papéis e tinteiros, sair, a cabresto, empurrado por dois policiais. Na memória do homem correm aqueles instantes como se tivessem sido tatuados em sua pele lembranças que teimam em se mostrar tão atuais quanto brutais. No seu desespero de criança, recolheu alguns livros, uma resma e a caneta que o tio tanto gostava e prezava, e apareceu na soleira da porta enquanto o tio era carregado... já não havia tempo para entregar-lhe aqueles objetos que poderiam fazer alguma diferença na vida de claustro daquele que ele aprendeu a amar e a respeitar. Mesmo assim gritou com uma força proveniente de suas mais recônditas vísceras: "Um sujeito mesmo que culpado tem o direito de levar alguns pertences..." Um dos policiais aproximou-se com ares de ironia, pegou o emaranhado de livros, papéis e caneta que o menino segurava contra o peito como se quisesse ser levado junto. Os anos arrastaram-se, mas, ainda assim, passaram, transcorreram. E durante todo o tempo, o menino, já homem há muito, guardou consigo a idéia voraz de que estaria esperando o tio à saída da prisão no dia exato em que terminaria sua pena. O dia chegara. E ele estava ali, segurando a missiva, relendo-a mentalmente, pois já a havia decorado e pensava quais poderiam ser as suas palavras primeiras direcionadas ao homem que a partir de então teria direito novamente à sua liberdade, se o mesmo fosse capaz de não mais errar... o negativismo o puxou para a mesma soleira da porta em que esteve parado trinta anos atrás. Deu os primeiros passos e estacou como se tivesse sido alvejado. Estava atrasado uma hora. Vinha caminhando em direção à casa o tio, o homem que ele tanto esperava ter ido esperar à saída do cárcere durante estes trinta anos... sim, era o mesmo... mais velho obviamente, mas mantinha no olhar a expressão decidida e de certa valentia diante das atrocidades do mundo e de sua dolorosa realidade tão vivida e vívida nas últimas décadas. Não era um ex-prisioneiro que ele via, era novamente o seu tio. Trazia os livros debaixo do braço esquerdo. Os mesmos livros que ele, enquanto criança, alcançara num átimo de desespero para que seu tio não passasse tantos anos longe da tão necessária sapiência que o mesmo nunca pretendeu deixar de lado. Todas aquelas frases que ele, durante todos os anos, havia pensado em proferir neste instante de retorno, caíram num baú de olvidos. Estava sem ação e reação. Então, foi o tio quem, aproximando-se e abrindo o portão finalmente, disse-lhe: "A volta se faz presente, mas pouco sei o que farei daqui por diante..." e abraçou o sobrinho por alguns instantes. O homem-menino confundia-se entre o outrora e o momento atual, perdia-se em vastas e destoantes divagações, queria tanto dizer, mas a fala o condenava a calar. Quando já visualizava as costas do tio, cansado e abatido, quase entrando em casa, balbuciou uma frase simplória: "Finalmente a liberdade..." E então, na soleira da porta, o tio já com seus mais de sessenta anos, volta-se com um riso cheio de melancolia e diz, por fim: "A única liberdade que nos é permitida é a de escolhermos a nossa própria prisão, saí de uma sim, mas, não nos enganemos, estou entrando em outra... e tu, qual das prisões escolheste para ser cativo até o último estertor?" O silêncio tomou conta e respondeu, para ambos, que, de fato, a verídica liberdade era tão improvável quanto inalcançável. – Fernanda R. Barros, Porto Alegre (RS), 02/07/2010

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"Mas parecem mesmo haver estranhas conexões – passagens secretas através de planos multidimensionais – que podem me levar para fora daqui. Esta noite eu pretendo explorar esta natureza de coisas." Acendo um cigarro e sentado à janela vou fitando o céu. Uma leve garoa cai, faz frio, meu corpo dói por estar a tanto tempo na mesma posição, sem forças mal consigo me mexer, sinto um torpor a me envolver feito as nuvens cinza que envolvem o céu. Na lembrança o que trago são seus beijos. O doce e macio som da sua voz a dizer que um dia a morte chegaria, lembro de um poema que um dia li e que dizia ser a morte a única saída possível para o escuro e sujo túnel chamado vida. É para lá que me dirijo, agora sei meu destino. A morte. A morte. A morte. Vou me matar para o desejo de você que invade toda manhã as janelas do meu corpo. Chega! Basta! Quero gritar, a voz não sai. Está presa como você a mim, presa em algum lugar que sou incapaz de chegar, mas que sei se situa dentro de mim. Tiro bem lentamente a roupa pensando que dessa forma poderei ser capaz de arrancar de mim cada pedaço de você que ainda sobrevive no meu corpo, em cada peça de roupa que displicentemente deixo cair ao chão vejo uma parte de você: junto à camisa de botão de duas cores ouço sua voz dizendo baixinho que me ama; com a bermuda sinto deslizar sua mão, como desliza por meu corpo tocando-me e excitando-me; a cueca sai de mim acompanhada pelo doce e macio cheiro do seu sexo (quando fazia minha língua percorrer em movimentos desordenados seu desejo, o gosto que ficava em mim é o mesmo que escorre agora junto de mais um pedaço seu, que tento em vão jogar fora); as meias são acompanhadas pelo silêncio do seu olhar que penetra o meu, fazendo-me acreditar que sim, a felicidade existe, mesmo que por uma ínfima fração na escala do tempo. Assim, nu de você, olho meu corpo sem cor no espelho e o que vejo são as marcas da saudade. O cigarro apagado na mão me faz lembrar o movimento do amor, entre encher e esvaziar o pulmão com a fumaça sobra um pedaço de tempo, é nele que procuro me refugiar das dores e tentar outra vez encontrar um caminho. Você se foi para não mais voltar, sei disso, como sei que o cigarro logo me matará, mas entre esperar erroneamente por sua volta e pela minha morte é que reside um último esforço de vida: fôlego que se dilui lentamente feito o pó preto do café sendo tocado pela água fervendo, com isso o que sobra é o cheiro, aroma de dor, aroma, amor(a), amor(a). Acendo o cigarro. Silêncio. Lá fora chove, talvez seja hora de sair, me plantar no portão e ser regado pela água da chuva até que você venha, que traga escondido por sob a blusa semi-encharcada mais um poema feito para mim (como fazia para consumir o tempo de viagem e saudades que o ônibus te oferecia até chegares em casa de mais um dia de trabalho); enquanto isso não acontece vou desenhando no macio silêncio de mais uma tarde chuvosa que você me ama, me ama tanto que nunca mais voltou para mim: fumaça se perdendo no ar, azul, depois nada, nada, nada. – Carlos Henrique dos Santos, São Gonçalo (RJ), 02/07/2010

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Impiedoso portal. Este regenerador de esferas que revela a beleza do infinito. Eu posso caminhar pelas palavras de Jorge como um saltimbanco ébrio. Bebo cada palavra após liquefazê-las, espremendo o caroço das equações que palpitam no dorso mecânico do prisioneiro. E assim termino o meu intento, que por hora incompleta, há de ser repleto de sentimento. – Sérgio Araújo, Salinas da Margarida (BA), 03/07/2010

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“O topo do monte apresenta suas árvores frondosas, num arranjo inusitado que me remete à lembrança da vasta cabeleira de Baba. O caminho ziguezagueante de volta é árduo.” Fora as árvores do topo, o incêndio varreu tudo. Impôs outra realidade, ora onda, ora partícula. O varrido, num mergulho narcísico, havia tentado um auto-retrato poético, o que lhe escapou. A labareda findara seu movimento como um magma surdo e inominado. Sem vestígios de poesia: esta não desliza pela superfície ou reentrâncias da terra. Tampouco eu sabia de versos, ainda menos os do amor. Na travessia me restava um poema incompleto à procura da última estrofe. “Em certo trecho da subida os batimentos beiravam (...)” – Sonia Regina, Rio de Janeiro (RJ), 05/07/2010

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O simbolismo (palavras e significados) nos permite expressar tudo que temos na profundidade do nosso inconsciente. Que seria da inspiração do poeta se não tivesse as palavras para expressar tudo que sente ou deseja sentir? O conto “Prisioneiro” é um universo. Mostra-nos todo tipo de saber. O Baba indiano é excepcional. Bacon “Saber é Poder”, Jung, etc. Todos libertos e relembrados, aliviando a dor do prisioneiro erudito. Mas, quem não pode pagar a pena não deve cometer o crime. O prisioneiro sabe disto e se lamenta. Perdeu a única coisa que o homem deve valorizar: A sua liberdade. – Alice Luconi Nassif, Rio de Janeiro (RJ), 07/07/2010

Canção para L.L.

Em vão eu te esperei aqui dentro da prisão de uma noite calma...
Sob o crivo estelar, à sombra do noturno
Céu de silêncio, céu profundo e taciturno,
O silêncio, rondando, espreitava minha alma,
Com um olhar taciturno
Dentro da noite calma...
No meu claustro-jardim solitário e adormecido, as sombras
Da noite misteriosa eram formas viventes
Que deslizavam nas extraordinárias concretadas alfombras
Ao pé dos lagos de águas quietas e dormentes
Vagas formas viventes
De silenciosas sombras.
Uma serenidade obscura de quietude
Aveludava o passo à fuga dos instantes...
E no meu cativo coração de ritmos inconstantes,
A saudade se abria em luar de solitude
Prolongando a quietude
Desses longos instantes.
... E eu te esperei em vão, oh
Liberdade!!!... mas súbito, a memória,
Chorando, recordou meu lábio silencioso
Que não te disse a glória triste, a inútil glória
Da minha espera feita de orgulho criminoso,
A sangrar, na memória,
A sofrer, silencioso...
Colhi na sombra da minha cela, então,
Com o gesto exausto e longo,
Uma imaginária flor que levei junto ao lábio mudo.
Um estranho sabor molhou-me a boca exangue...
Baixei o olhar sobre a corola de veludo:
Na minha mão a flor se embebeu de sangue
Oh, malfadada foste tu, Liberdade!
Como eu te esperava...
Meu coração chorava o seu orgulho mudo
E os meus olhos vertiam sangue...
– Fernanda R. Barros, Porto Alegre (RS), 07/07/2010

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homem só
encerrado em si mesmo
ante a gravidade dos dias
o verde insuportável da mata
idéia que não alça vôo às estrelas
dissipa-se, antes, pela resistência do céu
a luz do sol cega os seus olhos
nem mesmo a nuvem consegue apreender
mas, todos juntos
ilhas justapostas em continente
o corpo elevado dos sublimes ideais
suplantaremos a fronteira do real
imaginaremos, construiremos
o justo mundo dos sonhos
morada da liberdade
onde florescerá h-a(r)mo(r)-nia

1 Comentário

Francisco Coimbra

O ERRO

o pior das palavras
é poderem ser falsificadas
dando a entender o verdadeiro
como sendo um erro

o pior das palavras
é poderem ser verdadeiras
dando como errado
algo antes tomado por certo

o pior das palavras
é poderem ter este poder
dando-o apenas pela poesia
através da sensibilidade

o pior das palavras
é poderem representar tudo
dando a verdade como solução
sendo esse o erro!