segunda-feira, 5 de julho de 2010

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Osvaldo Pastorelli - Alucinação





Tony apunhalou com raiva o batente da porta que os nervos da madeira rangeram ao sentir a ponta da faca. Deoclécio que estava próximo recebeu o calor do movimento da mão de Tony ao sentir o vento bafejando o rosto. Num susto precipitado, deu um pulo para trás ao mesmo tempo chamando-o de estúpido.
Tony pouco se lixou, continuou sem ouvir o amigo. Queria extravasar a raiva e achou o batente da porta o melhor lugar. Em seguida, jogou a faca no chão e saiu como se estivesse fugindo de algo.
Deoclécio sem entender nada, olhou para o vulto esguio se embrenhando na tarde que começava a cair. Depois, pegou a faca do chão. Viu que estava suja de sangue. Olhou o batente da porta, vertia sangue. Estarrecido largou a faca que batendo no ladrilho pareceu gritar.
Estaria ele alucinado ou seria reflexo da ação de Tony? Afinal Tony, para ele, isto é, em sua concepção não tinha nada a perder. Demonstrava sua raiva e dor. Quem vai saber o que se passa na cabeça de um desnorteado! Seria por necessidade, por demonstrar que estava ali, a sua frente, que não era uma pessoa tão somente?
Talvez o sangue seja um corte que fizera na mão ao apunhalar o batente da porta. Talvez a porta estivesse realmente sentindo as facadas. Estaria louco de pensar dessa maneira. Onde já se viu porta verter sangue? Só em história de Stephen King. Chegou à conclusão. Não iria mais ler contos de terror, especialmente de Stephen King.
Fechou o livro. Jogou-o contra a parede.
Saiu, ganhou a rua e entrou no primeiro bar.
Precisava sentir as pessoas de carne e osso.
Chega de ler falou para o copo de cerveja.


Pastorelli

Imagem: Peter Cakovsky





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