XIII
Clarissa chegou à casa de sua mãe eram nove horas da manhã. Todos a estavam esperando porque avisara a hora que chegaria. Seu ônibus foi pontual. A pequena cidade do interior do Estado onde morava sua mãe, era algo digno de nota. Todas as famílias se conheciam e sabiam até o que teria no café da manhã de cada vizinho. Então a chegada da filha, que desde que casou aos dezoito anos, não viera mais visitar ninguém, era um fato comentado a todo vapor pela vizinhança em polvorosa. Clarissa desceu do ônibus e parecia que a cidade toda estava ali para vê-la.
- Olha que linda que ela é! – falou uma das vizinhas de sua mãe quando ela desceu do ônibus.
Quase foi arrastada pela família e amigos até um pequeno carro antigo, propriedade de seu pai há muitos anos, estacionado ao lado da pequena Rodoviária onde os ônibus faziam suas paradas obrigatórias.
Chegando à casa de sua família, Clarissa sentiu o cheiro familiar de aconchego e carinho que dali vinha. Como era bom sentir esta alegria. Tantos anos que não vinha ver seus pais, que até havia esquecido do quanto era bom ter alguém como eles ao lado.
- E aí minha filha! Sentiu saudades? – perguntou o pai olhando para o semblante feliz da filha.
- Nossa! Nem imagina quanto!
- Venha trazer suas coisas. Seu quarto continua o mesmo e do jeito que deixou.
E sua mãe lhe puxava pela mão para que fosse ver como era verdade o que dizia.
Seu quarto era azul bem claro com faixas brancas e douradas riscando horizontalmente as paredes. Fora ela mesma que fizera a decoração ao completar 15 anos. Ainda estava lá do mesmo jeito, nem desbotara.
Jogou sua valise ao lado do armário, e estirou-se na cama como fazia quando chegava do colégio antigamente. Como era bom!!!
- Vou deixá-la descansar enquanto preparo um bom café para você.
Sua mãe saiu e ela descansou a cabeça no macio travesseiro cor de rosa e dormiu imediatamente.
Sonhou que era criança e que pescava no rio que banhava a cidade, seu pai a ajudava lançar o anzol sobre as águas claras. De repente o rio virou mar, e o barco onde estava com o pai era velho e sujo de sangue, começou a gritar.
Acordou assustada com sua mãe ao lado lhe passando a mão pelos cabelos.
- Estava tendo um sonho ruim minha filha?
- Não mamãe! Sonhava que estava pescando com papai no rio.
- Parecia que você estava com alguma dor, sua fisionomia se contraia como se fosse isso. Venha, o café está pronto.
Na grande mesa da copa estava o café que ela havia esquecido que existia. Um grande bule de porcelana, uma leiteira do mesmo tamanho com leite fervendo, açucareiro, manteigueiras, potes de geléia, pão fresquinho feito em casa. Ainda tinha bolinhos de chuva recheados com goiabada, biscoitos caseiros e uma travessa cheia de frutas da época.
- Puxa mamãe! Havia esquecido como seu café da manhã era tão gostoso. Estou com muita fome!
Sentou-se ao lado da mãe em frente a seu pai que a olhava com os olhos meigos cheios de saudade. Seu coração ficou pequeno sabendo o quanto os fizera sofrer não vindo vê-los mais vezes nesses anos todos. Quantos anos ela ficou longe mesmo? Como se seu pai ouvisse seu pensamento falou:
- Quase nove anos que você não vinha aqui! Já não tínhamos mais esperanças de que viesse antes de morrermos.
E os olhos meigos do pai se encheram de lágrimas. Clarissa com a boca cheia com um bolinho de chuva quase se engasgou. Levantou e foi até seu pai e lhe deu um grande e afetuoso abraço.
- Papai! Não fale assim! Vocês não deixaram de ser importantes para mim, só porque meus afazeres não me deram tempo de vir vê-los. Mas agora, se quiserem, posso ficar muito tempo. Parei de lecionar, me dei umas férias longas por minha conta.
- E Maurício? – perguntou a mãe.
Lembrou que não havia contado a eles sobre a história inventada por ela sobre o marido.
- Após esse café maravilhoso vou contar-lhes em detalhes, tudo o que vem acontecendo em minha vida ultimamente.
Voltou a sentar-se porque estava realmente com fome. Desde aquela noite fatídica que ela não fazia refeições assim, saudáveis e abundantes. Tinha emagrecido muito e algumas vezes sentia-se muito fraca. As dores voltavam de vez em quando, tanto no peito como na cabeça. E assim perdia todo e qualquer apetite. Mas agora estava bem, sem dores, com o coração aquecido pelo amor dos pais.
Após o lauto café da manhã, Clarissa chamou os pais para o exterior da casa, onde havia uma grande e gostosa varanda com redes e cadeiras com almofadas coloridas.
Então falou para os pais a história inventada por ela para o desaparecimento de Maurício. Ela não sabia onde estava, e ninguém mais o sabia. Contou que a mãe dele colocou uns detetives a sua procura, mas nenhum resultado até agora.
Restava esperar.
Seja o primeiro a comentar:
Postar um comentário