segunda-feira, 30 de agosto de 2010

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Fernando Bastos - O apedrejamento da adúltera


Corre no noticiário a condenação à morte por apedrejamento de mulher iraniana, Sakineh Mohammadi Ashtiani, acusada de adultério.

O Irã, como todo país muçulmano, segue a doutrina do Corão, livro sagrado islâmico. Em diversos casos é autorizado o açoite e nos mais graves, o apedrejamento até a morte.

Aos olhos de um ocidental, isso parece terrível, próprio dos tempos bárbaros. Um cristão menos atento dirá que o cristianismo é a religião do amor, e que seu livro, a Bíblia, é o exemplo mais perfeito de ética e moralidade. E que lamenta que tal coisa aconteça em pleno século 21.

Esse cristão esquece que, grande parte das leis teocráticas do islã é influenciada pela Bíblia. A Bíblia, que os cristãos acreditam ser inspirada em Deus (do mesmo modo que os antigos babilônicos, sumérios, chineses e egípcios acreditavam que seus reis eram auxiliados por um deus na confecção das leis) presenteia o leitor com uma série de puniçõees que vão da chicotada à pena de morte. Tudo autorizado por Javé, o deus que aparecia a Moisés.

O apedrejamento de adúlteros, que causa perplexidade no cristão moderno e em todo ser humano racional e sensato, tem origem em Levítico 20,10:

“Se um homem cometer adultério com uma mulher casada, com a mulher de seu próximo, o homem e a mulher adúltera serão punidos de morte.”

Além dessa lei há outras regras bíblicas que punem os infratores com a pena de morte, a saber: morte a quem consulta os astros, a homossexuais, aos que adoram outros deuses (têm outra religião), aos que invocam os espíritos, etc.

O Ocidente, de maioria cristã, só parou com o apedrejamento de adúlteros e não joga mais hereges no fogo porque aqui o poder teocrático ruiu graças sobretudo a Lutero, que denunciou os absurdos da Igreja e fundou o protestantismo, à Revolução Francesa que separou estado da Igreja e à voz dos filósofos iluministas que alertaram o povo contra os perigos dos dogmas religiosos.

Onde o governo é laico e os direitos humanos são respeitados, raramente veremos punições que melindram o espírito democrático.






Imagem SuperStock: The Stoning of St.Stephen, autor ignorado






1 Comentário

SÔNIA PILLON

Sem dúvida, um belo relato histórico, Fernando! Mas não podemos esquecer que não basta apenas constatarmos que se trata de uma barbaridade. É preciso que as nações se unam e pressionem o Irã para impedir esse absurdo! O fim do Ramadã é esta semana, e o próprio filho de Sakineh está implorando ao Lula para que reforce seu pedido de dar asilo a essa mulher. É hora de agir!