Capítulo I
Naquela manhã particularmente fria do mês de julho, saí para o trabalho dentro de um pacote de roupas razoável. Embaixo de um enorme casaco de couro forrado com lã de carneiro estava eu ainda, com pulôver e camiseta. O frio era realmente enregelante e fazia todos saírem de casa tiritando. A geada formada na noite anterior tinha mais de três centímetros nas beiradas das calçadas. Apesar do gelo Porto Alegre estava uma lindeza. Céu azul puríssimo sem nenhuma nuvem e nem riscos, um sol aparecendo medroso, mas radiante, alegrava os corações.
É claro que o carro não funcionou e precisei ir a pé ao trabalho. De minha casa ao prédio onde ficava meu escritório era bem longe. Por isso apressei o passo e segui cortando caminho por praças e ruelas. Em frente o prédio de meu destino havia uma praça muito bonita. Sempre que podia ficava na janela de minha sala olhando para ela. De cima parecia mais bonita ainda, porque os vislumbres de vida eram feitos por entre as copas das frondosas árvores que no verão davam uma sombra deliciosa. Mas agora no inverno era melhor contorná-las. O sol bonito, mas pálido, não dava calor suficiente para aquecer a quem passasse por baixo delas. Segui pelas calçadas laterais, e percebi ter sido a decisão de todos que precisaram fazer o mesmo trajeto. Quando cheguei à frente do prédio onde ficava meu trabalho, precisei esperar passarem alguns poucos carros dos felizardos que conseguiram fazer os motores funcionarem apesar do frio. Parei minha caminhada e fiquei olhando para os lados até poder atravessar a rua com segurança.
Senti em meu braço uma mão que segurou com delicadeza.
1 Comentário
E sentiste que além de firme era gelada essa mão, mais que a manhã insinuava, Paola?
Bom. Quando começa, é como coçar... não vais parar!
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