segunda-feira, 30 de agosto de 2010

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O Colete - Belvedere Bruno

Hoje, vasculhando os armários, encontrei meu colete multicor. Impressionava pela mistura um tanto inusitada das cores que vovó utilizou. Por exemplo: cenoura com rosa, azul com verde, preto com roxo... A princípio relutei em usá-lo, pois parecia um verdadeiro carnaval. Depois, pensei e senti o quanto de calor e amor havia sido colocado no tricotar daquele colete. Na verdade, eu sabia que ela aproveitara todas as sobras de lã que havia no cesto. Passei corajosamente a desfilar com ele todos os invernos de minha adolescência. Realmente chamava a atenção. Diziam que ela havia tido uma imaginação fora do comum. Fazia sucesso. O tempo passou e ele acabou sendo colocado junto às roupas não mais usáveis. Hoje, ao pegar o colete, com as cores tão vivas, e ele, ainda tão atual, arrojado, lembrei-me com ternura de minha avó, que, ao tricotar, ensinava também às filhas e às netas a arte que tão bem dominava. Afaguei o colete, apertei-o de encontro ao peito e pareceu-me sentir o cheiro de vovó e ver os dedos dela, mágicos, fazendo de fios de linha um colete que, desafiando o tempo, fez meu coração bater em ritmo de adolescência e as lágrimas caírem, trazendo-me a certeza de que o tempo voa.






Imagem: autor ignorado


2 comentários

Efigênia Coutinho ( Mallemont )

Belvedere Bruno , uma leitura deliciosamente terna, aconchegante, recordar é viver, sentir, tocar, coisa linda, eu adorei, meus PARABÉNS, eu dei uma volta na minha infância relembrando de minha avó, muito bom mesmo,
Efigenia

Anônimo

Como sempre seus textos transborda ternura, já reparou? O Vinho Branco é todo ternura, muito bom esse texto e O Vinho, parabéns. Beijo e sucesso.