domingo, 12 de setembro de 2010

0

Boletim 6







Caro leitor,


Fundamos em 6 de março de 2010 o Boletim da revista Letras et cetera. Os primeiros cinco números trazem os escritores que foram destaque no mês da publicação. Esta newsletter e as demais publicarão individualmente escritores desta Casa: fundadores e colaboradores. Neste boletim trazemos a poesia de ALEXANDRE EDUARDO WEISS.
Antecipadamente gratos pelas leituras e comentários, subscrevemo-nos. Atenciosamente,

Sonia Regina
Editora





" Designer por formação, escritor por devoção e artista plástico por paixão. A ordem e os substantivos poder ser trocados. Não escrevo porque quero, escrevo porque preciso. Sem escrever não vivo, sobrevivo apenas. Assim como desenho e pinto. Faço ilustrações para tentar exprimir minha alma em cores e formas diversas. Sou maleável como uma rocha, leve como um pecado, simples como um virus."

" Marido, pai, aprendiz, nas horas vagas escrevo, quando não estou dormindo."



Assim diz de si o escritor e artista plástico Alexandre Eduardo Weiss, colaborador da Revista Letras et cetera e amigo querido do grupo de fundadores desde o Portal Literal, onde ganhou o concurso de contos com o conto O Branco e o Preto.





Contato: lazullirio@yahoo.com.br






Autoconhecimento


Alexandre Eduardo Weiss



Procuro por mim mesmo.
Onde me encontro?
percorro todos shoppings,
em nenhum deles estou,
vou à todas igrejas,
lá não me encontro tampouco.


Percorro feiras,
livres ou cobertas,
de todo tipo de coisas,
vou a todos mercados,
procuro no google,
pesquiso na internet.


Tão pouco quero,
e tampouco encontro.


Coisa simples,
nada demais,
mas nem desse pouco,
me sinto capaz.


Quem sou?
É muito, querer me conhecer?
Saber quem sou.
Estive em muitos lugares,
milhares de livros já li.
Já cruzei oceanos,
já morri,
já renasci.
No entanto,
em nenhum desses momentos
me conheci.


Andei a torto e a direita,
à esquerda também,
já olhei em cada greta,
subi acima das nuvens,
mas nunca me vi como alguém.


Alguém capaz de exprimir tudo que sente,
dizer tudo que não sabe,
fazer tudo que quer,
ser meu próprio rei,
não sendo uma coisa qualquer.


De ser somente eu.
Alguém assim, sei,
é difícil encontrar,
mas mesmo sabendo disso,
não desisto.


Me busco nas florestas mais densas,
no fundo dos oceanos,
no interior da terra,
nos confins do universo.


Já entrei em buracos negros,
e deles nunca mais saí,
mas mesmo não saindo,
agora não estou mais ali.


Será isso então?
Só existo na minha imaginação.


Quando parar de pensar desaparecerei.
Nunca terei existido,
jamais me encontrarei,


Talvez seja achado na calçada,
de uma esquina movimentada
dentro de um saco de papel,
e então encaminhado,
entregue na seção de achados e perdidos
de um supermercado.


Ali estou?
Talvez ali.


Pode ser, no entanto,
que não seja este meu destino,
posso ir pro depósito de lixo.
Lixo atômico.
Altamente mortífero.
Por séculos ainda estarei
poluindo o solo, água e ar.
Lixo radioativo.
Mata todo ser vivo.


Serei eu ali?


Pergunto a mim mesmo,
sujeito que nunca vi.




Nada
Alexandre Eduardo Weiss




imagem: Mariusz Szymaszek



Nada sobrou. Nada.

Tudo destruído: o que fora um dia um planeta com enorme biodiversidade e uma raça “especial” de animais – autodenominados seres humanos – que nele ergueram cidades, criaram sistemas de transporte e comunicação que envolveram todo o globo; tornaram o planeta adaptado às suas necessidades, em constante crescimento; o chamavam de mundo “civilizado”, mas o encheram com uma quantidade criminosa, irresponsável, estúpida, absurdamente alta de porcarias e lixos venenosos, e foi tanto, que, enfim, tiveram o destino que mereciam: sumiram, desapareceram.


E foram tarde.


Pobre natureza, se os animais e os vegetais podem mesmo sentir algum tipo de terror pelo que presenciaram – existiam muitas provas a favor - então os que sobraram foram extenuados em sua capacidade de se horrorizar.


E o que sobrou nos últimos instantes da natureza foram apenas alguns poucos insetos, restos de vegetação semi-carbonizada aqui e ali e muita poeira no ar, muita poeira.


Negra, da cor da escuridão.


Depois dos furacões e terremotos, erupções vulcânicas e tsunamis que ocorreram em massa, quase nada que era vivo resistiu. Um clichê. Como nos filmes de Hollywood. Quando o ar se encheu da poeira opaca da fuligem dos incêndios causados por jatos de lavas vulcânicas lançados a enormes distancias por gigantescos vulcões que afloraram qual fratura exposta após o início da grande onda de cataclismos que varreu toda a crosta terrestre, a luz do sol não penetra mais na atmosfera e em breve até os derradeiros insetos e micro organismos irão morrer. Foi quebrada de forma irrecuperável a cadeia de vida e as características fisioclimáticas que mantinham o frágil equilíbrio que dava sustentabilidade a natureza.


Tudo vazio.


Nem urubus nem ratos.


Nem bosta nem capim.


Nada. Um planeta sem vida.


Ninguém pra ler estas palavras.


Ninguém pra olhá-las com desdém.


A página na qual este texto está escrito, milagrosamente foi arrastada por uma fortíssima corrente de ar de cima da mesa do escritório de uma casa vazia e, antes que esta fosse engolida por um terremoto inimaginável, pela janela sem vidros, entre os escombros, saiu, voou pelo ar e subiu acima da poeira negra, como folha seca no vento viajou pelo espaço e, depois de um tempo sem fim, pousou, suavemente, numa superfície lisa de gelo novo, congelando instantaneamente, e ali permaneceu, intacta. Depois de milhões de séculos ainda é visível na transparência vitrificada do glaciar.


Talvez, daqui a bilhões de anos, outros seres, quem sabe, a encontrem, e passem milênios tentando decifrar o que estes pequenos símbolos agregados representavam.



Pastos do Vendão
Alexandre Eduardo Weiss

...................Pintura de técnicas mistas, do autor. Pastos da Fazenda do Vendão - MG




Parece que foi ontem, ou mesmo agora há pouco,
Estavas tão bela, qual uma pintura!
Teus cabelos ao vento,
Cheiravam à carambola, ou jamelão.
Nestes verdes campos
Conheci o amor, ele em ti se revelou. De forma indescritível.


Quanto esplendor! Quanta cor!
Abismado te abracei e rolamos na relva.
Como bezerros e potros.
Balançamos na porteira, só para nos divertir.


Hoje os campos estão lá, e também as montanhas.
Teu perfume jamais esqueci.
Quando vejo estes currais, onde me encontro?
Tua presença bem junto a mim.
Queria que fosse eterna.
Como posso existir?
Se você não vem comigo, puxando o gado pelas estradas de chão.
Passear no campo
Cavalgar até as montanhas.
Assistir, abraçados, perplexos e encantados, mais um pôr-do-sol.







[13 de maio de 2010]









________________________________________________


Subscreva enviando um e-mail em branco para letrasetc-subscribe@yahoogrupos.com.br.
Para conhecer os escritores fundadores e colaboradores e suas obras acesse a lista geral de escritores.


Clique nos números e acesse os boletins anteriores: 1 - 2 - 3 - 4 - 5 3
4 5 6 7 8 9





Seja o primeiro a comentar: