Às margens desse rio asfixiado,
habitado pela merda expelida das casas
e o ácido excedente das indústrias,
homens pararam por um instante –
testemunharam seus reflexos no espelho
antes de seguir viagem; outros
velaram toda uma noite atrás de um peixe.
Nessas águas espessas,
violentadas pelo óleo das auto-estradas,
oprimidas pelo caldo dos bueiros,
mulheres lavaram a roupa e as mágoas;
outras se aliaram ao corpo do rio
para ajudar as flores a resistirem ao inverno
e os tomates a se rebelarem contra a seca.
Às margens desse rio viciado,
picado pela agulha dos hospitais,
assaltado pela indigestão dos restaurantes,
meninos caçaram animais que por ali se aventuravam,
ou simplesmente ficaram ao vento –
que não tinha o cheiro senão do campo que percorria.
Imagem: Ali B.Sufyan
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
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Inventário de um rio - L. Rafael Nolli
autor(a): Unknown
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8 comentários
meu grande amigo, é sempre um imenso prazer ler os teus belos poemas!!!
grande abraço desde a terra lusitana
jorge
Jorge, fico feliz por ter gostado e, sobretudo, feliz pela amizade! Um abraço!
crítica e auto-crítica na medida certa. muito bom poema. parabéns ao mano rafael e a letras etc.
muito, muito bom. o que alías, é a sua marca.
o verso final é um achado e fecha o poema de maneira soberba.
1 beijo daqui.
Muito bom Nolli. bem atual!
Abraço!
Hugo Martins
Muito bom o poema camarada Nolli.
Um momento da historia que passou e agora esta registrado. Grande abraço!
"...outras se aliaram ao corpo do rio
para ajudar as flores a resistirem ao inverno..." . Achei tão profundo, de perder o fôlego.
bjs
é rafael, meu caro, nos não fazemos só excrementos na natureza. bom ler vc, sempre. do amigo isaias
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