quarta-feira, 22 de setembro de 2010

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Os Ciganos - Capítulo II

Capítulo II



No dia seguinte quando saí do Colégio dei de cara com Miguel, o cigano. Ele veio a meu encontro e descemos até o ponto de ônibus conversando.

– Quer ir até o farol comigo? – perguntou Miguel.

– Lá onde estivemos no outro dia com Renan?

– É!

Pensei que ainda era cedo e podia mesmo fazer um passeio.

– Está bem, vamos lá.

E conversando animados subimos no primeiro ônibus que ia até a praia. Durante o trajeto Miguel ficou um pouco em silêncio, acho que não se sentia muito bem junto às pessoas que olhavam para seu traje típico. Para deixá-lo mais à vontade perguntei:

– E Sara? Onde está?

– A Princesa está na praia lendo as mãos das turistas.

– Por que a chamou de Princesa?

– Porque ela é uma espécie de Princesa dos ciganos, embora nossos líderes não sejam considerados Reis, o pai dela era um dos maiores líderes dos grupos na Espanha.

– Puxa! Deve ser bonita a história dela!

– É! Muito bonita!

– Você sabe toda ela?

– Sim! A mãe de Sara nos contou pelo menos umas duzentas vezes antes de morrer.

– Você contaria a história para mim?

– Claro! Gosto de falar sobre Sara.

– Então me conte!

E Miguel iniciou uma narrativa mais ou menos assim:



Naquela madrugada fria de dezembro, o silêncio no acampamento cigano no Bairro de La Chancra nos arredores de Almería na Espanha, era envolvente. Havia paz na quietude que prenunciava o amanhecer, e o vento frio vindo das montanhas nevadas, trazia a poeira do árido terreno onde estava instalado o acampamento de ciganos do grupo Rom.

Um choro de bebê recém-nascido encheu o ar silencioso, anunciando a aurora e fazendo moverem-se inquietos os pássaros que se empoleiravam nas árvores ressequidas, embaixo das quais estavam os toldos das famílias ciganas que ali descansavam.

Carmem, a mãe do bebê que acabara de nascer era a esposa do líder do grupo Rom desse bairro, o belo Andras. O pai aconchegou o bebê ao colo, enrolou em uma de suas vestimentas como era o costume, e disse:

– Vai se chamar Sara, que quer dizer Princesa, bela como a aurora.

– Sim! – respondeu a mãe – será Sara, porque seu choro trouxe a luz do sol no alvorecer.

E pela abertura da tenda que servia de porta, as luzes do novo dia entraram para aquecer a fria manhã no leito de Sara.

Prosseguindo o pai falou:

– Consagrarei esta criança a Santa Sara Kali, que lhe dará no transcorrer da vida toda proteção. Será uma cigana autêntica com todos os poderes de visão e misticismo. Todos os seus vaticínios serão verdade, profetizará, curará e terá poder na leitura das mãos. Cantará como a cotovia e dançará como os Anjos. Assim será!

– Assim será! – corroborou a mãe.

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