terça-feira, 26 de outubro de 2010

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Olhos de Selva Azul [12] - Lenine de Carvalho
























XII.


Na metade do terceiro dia de marcha, Arauá lembrou-se do índio Nehay, que há muito tempo atrás havia morrido de tristeza.

Nehay tinha um filho pequeno, de dois anos de idade, que era a verdadeira adoração de Nehay.

Este índio era particularmente sensível, emotivo e de muito bom coração, sendo por isso, muito benquisto pelo resto de sua tribo.

Um dia a esposa de Nehay foi limpar peixes na

beira do rio, e levou consigo o pequeno Tahuy, deixando-o sentado próximo à margem, brincando na areia com um enfeite de penas de arara. Estava a uns dez metros de distância do filho, quando mais do que ver, pressentiu o movimento dentro da água, e aterrorizada assistiu ao imenso jacaré-açu sair correndo de dentro do rio, abocanhar seu filho pela cabeça, e mergulhar de volta no rio, levando a criança.

Os homens correram de armas na mão, ao ouvir os gritos da mão de Tahuy, mas nada puderam fazer. Nehay_ tinha chegado à frente de todos e quando soube o que havia acontecido, lançou um grito terrível e atirou-se na água.

Nadou desesperadamente por baixo d'água, procurando em todas as direções, até quase explodir os pulmões. Quando Nehay saiu da água, todos viram que alguma coisa havia se quebrado dentro dele...

Com uma voz esquisita, Nehay anunciou a todos que iria morrer.

Todos compreenderam, e em silêncio respeitaram sua decisão...

Nehay, deitou-se em sua rede e com olhos ausentes não mais se alimentou nem bebeu água.

A esposa de Nehay foi chamar Arauá.

Arauá veio. Tentou conversar com Nehay, mas este não tinha mais o que dizer, pois a bem da verdade, já não mais pertencia a este mundo.

Arauá disse aos demais que nada poderia fazer, pois Nehay conscientemente havia decidido morrer, pois não conseguia suportar a ausência do filho que era a alegria de seus olhos.

Como essa alegria se fora, Nehay também se iria.

De acordo com o costume tribal, todos tinham que respeitar essa decisão, e não passou pela cabeça de ninguém tentar obrigar a viver quem não estava mais interessado na vida.

Arauá não sentiu nenhuma piedade por Nehay, apenas compreendeu-o.

Nehay morreu serenamente no décimo dia.

Relembrando de tudo isso enquanto caminhava, Arauá refletiu que provavelmente o homem branco era como Nehay, só que não sendo um índio, a decisão de morrer não tinha sido tomada a nível de consciência, lúcida e fria portanto o sofrimento seria muito grande e longo, pois o branco continuaria a movimentar-se como um morto-vivo, às vêzes mais morto, às vêzes mais vivo, e isso poderia perdurar por toda uma existência.

Contra sua vontade, Arauá teve pena do homem branco.

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