sábado, 30 de outubro de 2010

GATILHO
Lílian Maial

















Mirou o Miró na parede da sala,
E era tanto azul, que choveu.
Retalhou a colcha de lembranças,
Cravou as unhas no couro,
Arranhou fotos, rasgou cartas,
E lamentou o dia seguinte de todos os ontens.
Pensou em pular da varanda,
Mas já havia pulado a cerca.
Tentou cortar os pulsos,
Mas a lâmina - de tanto raspar as pernas - estava cega.
Sentiu medo.
Pegou a velha Glock no armário,
Acariciou o cano, a coronha,
Um nervoso (detestava armas de fogo).
E a chuva – finalmente -
Apertou.

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