quinta-feira, 7 de outubro de 2010

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Olhos de Selva Azul [4] - Lenine de Carvalho
























IV. 




Arauá havia descoberto muita coisa, observando homens, animais, plantas e pedras.

Mas, muita coisa transcendia a compreensão de Arauá. Embora não fosse difícil para um índio, Arauá havia conseguido um controle e domínio quase completos sobre suas emoções, sentimentos e sensações. Pouca coisa seria capaz de espantá-lo, e nada conseguiria assustá-lo.

As explosões de cólera e violência de sua juventude, com o tempo haviam mostrado sua face inútil e negativa, e dado lugar à contemplação.

Havia participado de muitos combates, havia matado muita gente e sido ferido inúmeras vêzes, pois até onde a memória podia alcançar, as tribos antigamente viviam a guerrear-se pelos mais fúteis motivos.

Também havia combatido o homem branco, por mais de uma vez. E combater o homem branco era o tipo de luta mais fácil e mais difícil que havia, pois ele era de uma estupidez inacreditável, caia em todas as armadilhas, não era capaz de pressentir nenhuma emboscada, não sabia andar silenciosamente e nem orientar-se na mata, mas por outro lado, possuía armas barulhentas e terríveis, e quando conseguia agarrar um índio vivo, era de uma crueldade e perversidade inconcebíveis.

Arauá não gostava do homem branco. Já não o via há muitos e muitos anos, pois os remanescentes de várias tribos haviam se embrenhado muito fundo na floresta, onde nunca ninguém havia ido antes, e lá reconstruído suas aldeias.





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