quarta-feira, 6 de outubro de 2010

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Os Ciganos - Capítulo IV


 
Descemos do ônibus, e correndo como crianças, subimos o caminho que levava ao farol.

Lá no alto Miguel sentia-se bem. Era outra pessoa! Olhava o mar e a cidade ao longe com o porte de um Rei.

Fiquei observando o amigo com carinho e lhe perguntei:

– Você falou de Reika. Quem é ela?

– Disposta a ouvir mais uma história de ciganos?

– Gostaria muito!

– Então ouça!

E em pé à beira do penhasco ele contou a história da cigana que vivia como "gadje" (nome dado pelos ciganos para povos de outras raças). Ela e sua família, que ele amava e respeitava como se fosse sua por tudo que fizeram por ele e por Sara.

Mais ou menos assim:

Reika pertencia a uma família de ciganos vindos da cidade de Granada na Espanha e que se radicaram nas costas brasileiras. Seu pai, Andras, chegou ao Brasil no ano de 1970, já casado com Valey, também cigana do mesmo grupo Calom. Com o passar dos anos os acampamentos ciganos foram ficando mais raros no Brasil, e os povos foram se misturando ao modo de vida dos "gadje". Os pais de Reika estabeleceram-se aqui na costa da Bahia nesta cidade próxima à capital, onde podiam dar o estudo aos filhos que viessem para melhor integrarem-se ao convívio dos brasileiros.

Reika e seu irmão nasceram e se criaram aqui nesta cidade, e suas brincadeiras misturaram-se com as brincadeiras das demais crianças moradoras destas praias, mais Sara e eu. Os morros pedregosos e as proximidades do farol foram o palco das maiores estripulias dessa turma, até ficarem adultos.

Reika e André faziam parte dos "gadjes" em todas as suas atividades, estudavam e se preparavam para isso. Hoje Reika faz filosofia na faculdade e André está se preparando para o vestibular.

Naturalmente os encontros entre Reika, Miguel e Sara deixaram de acontecer espontaneamente, e não são mais planejados como antes eram. Agora só se veem por acaso, mas continuam muito amigos, embora trilhando caminhos bem diferentes.

Após essa história precisei voltar para minha casa. Estava fora desde manhã. Devia ir ao colégio e nem Renan nem ninguém sabia onde eu andava. Despedi-me de Miguel prometendo voltar outras vezes para ver o farol à noite, coisa que nunca havia visto e que segundo ele, era um espetáculo à parte.

Ao chegar a minha casa perguntei:

– Mamãe! Renan ligou?

Entrei pela porta correndo para me arrumar e ir ao colégio. Após engolir um lanche rápido saí em disparada até o ponto de ônibus.

Ainda amarrando a sandália no ponto de ônibus não notei o carro de Renan que chegou sem fazer muito ruído. Fiquei muito feliz por ele estar ali.

Renan me deixou na escola e foi para sua aula de direito. Após as aulas, em frente ao meu colégio estavam Renan, um rapaz muito bonito e uma moça morena linda, conversando. Renan esperou eu me aproximar e apresentou:

– Vanessa este é Andy, um amigo, e sua namorada Reika.

– Muito prazer Andy! Muito prazer Reika. Hoje conversei com um cigano que me falou em alguém com o seu nome.

Ela riu e disse:

– Deve ser Miguel!

– Sim! Foi Miguel.

– Também sou cigana, embora viva fora do meio, mas sou cigana autêntica.

– Minha cigana! – E o namorado abraçou-a pela cintura dando-lhe um beijo na face.

O belo rapaz estendeu a mão num cumprimento e disse:

– Já estávamos de saída. Aproveito para lhe dar boa noite. Vamos querida?

Com um rodopio cumprimentou Renan e saiu gingando em direção a um lindo carro vermelho.

– Que carro lindo! – falei.

– Foi bem de aula? – perguntou Renan.

– Sim tudo bem!

– Quer ir logo para casa ou quer fazer um lanche?

– Prefiro ir para casa. Hoje tive um dia cheio. Sabe o cigano Miguel?

– Sim! Lembro-me dele!

– Hoje o encontrei e conversamos muito. Ele contou duas histórias interessantes.

E enquanto nos dirigíamos para minha casa resumi as histórias contadas por Miguel.

– E a Reika da história é a namorada de Andy?

– Pelo que ela falou, é!

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