domingo, 21 de novembro de 2010

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Ai de ti, Haiti - Alexandre Eduardo Weiss

























Porcos vagueiam no lodaçal putrefato fazendo marolas gordas no líquido pastoso, verde enegrecido, a procura de quê?
Comida.
Comer para gerar mais porquinhos, leitões e leitoas.
Homens franzinos, ou serão mulheres? vagueiam ao lado procurando o quê?
Comida, e água, para gerar mais seres desumanos.
O calor é insuportável. O ar pesado acachapa os transeuntes.
Eles percorrem, pra lá e pra cá, toda praça da capital.
Semi-humanos. Ninguém dá a mínima.
Quando não vemos não sentimos.
Assim somos.
Chineses dormem em gaiolas, palestinos se explodem. Norte-coreanos nascem desnutridos. Terroristas aterrorizam. Tudo parece um pesadelo. Mulheres indefesas são apedrejadas.
Quero acordar...
Sair pra ver a praia linda, a areia branca, os corpos esbeltos e o ar ventilado, aqui do Rio de Janeiro. Nas favelas um pouco do Haiti. Nas prisões, um pouco do Haiti. Nas infinitudes terrenas povos se deslocam eternamente, indo e vindo, não sei pra onde.
Fazemos o que fazemos na tentativa de sermos felizes. É dito popular: “aproveite a vida, que é curta, e logo se esvaece”.
Aproveite e dê um pulo no coração da miséria desumana dos humanos. Ainda assim a vida continua. Saltando sobre obstáculos, percorrendo extensos caminhos, vagueiam pela Terra.
Pra onde?
A vida é eterna enquanto dura.
Não se diz? Então está dito.         
Prefiro ser mole, de coração.
Estendo a mão. Espero tocar em alguém.
Ela fica estendida, parada.
Meus dedos sentem que o vento passa entre eles.
A luz do luar, o calor do Sol, sinto-os na mão estendida.
Estou assim há dias, meses, uma eternidade.
Mil braços se voltam para mim. Mil membros estendidos, enervados, magros, brancos, negros, macilentos. Não nos tocamos. As mil mãos e a minha procuram se tocar, mas não conseguem ou não podem.
Micróbios e bactérias flutuam no ar, bóiam na água suja, bebida para matar a sede. A sede morre junto ao corpo inerte. Uma criança. Pequena, raquítica, não sobrevive até o amanhecer.





Imagem: Alexandre Eduardo Weiss



2 comentários

Priscilla Marfori...

Oi querido, já sou sua leitora fiel!

B-Jos.

devir antes dos nomes

Não é conivência
Também não é confronto
Somos tão desiguais
Somos tão inocentes, pois
O que pode haver de culpa
Na bactéria viva na lavagem
Que jogamos aos porcos mortos
E congelados no supermercado?
A fartura, a fatura e o futuro
Que estranha relação humana
Se entranha a cada evolução
A cada revolução histórica e
Em coração cada dia inaugurado?
São perguntas sem resposta, são
Muitas respostas dexistidas ou
Jamais feitas no ranger dos dentes
Entre jantares e porres ao luar.
São muitos prazeres simulados
Como se câmeras nos valorizassem
Aos olhos de miserável Deus, que
Nunca esteve entre os desumanos.