Em todas as grandes cidades existe, uma íntima, apaixonante e dolorosa relação entre as janelas envidraçadas e as calçadas polidas, pouco importando os opostos, se pela luz das estrelas ou pela arder do sol inclemente.
Esse noivado de séculos entre os olhares bisbilhoteiros que se derramam das janelas e o teatro das ruas, encenando sonhos, desesperanças, amor, esperanças, desamor, é o grande testemunho das misérias e grandezas que todos vivenciamos nesse laboratório estonteante, nesse julgamento diário, onde absolvidos e condenados pelo tempo, pela vida, escrevem, felizes ou sofridos, as páginas dos livros das suas existências.
Dos olhos das casas podemos ver o caminhar das faces felizes ou as que trazem nos lábios o desenho da dor. Através de muitos rostos emoldurados pelas janelas, os que andam pelas calçadas conseguem sentir se essas almas debruçadas nos parapeitos são tristes prisioneiras das suas feridas internas ou se têm seus corações batendo acelerados, livres, felizes.
Quem não conhece um caso de amor que nasceu de um cruzar de olhares entre a calma das casas e a agitação das ruas? Juras invisíveis de amor que devassaram essas pequenas fronteiras e acabaram criando amantes perfeitos, íntimos, cúmplices, como são as janelas e as calçadas. Que importam os olhares de despedidas, se um novo amor sempre é o maior aliado das dores do coração?
A modernidade, o medo das ruas, infelizmente, vem tornando os homens bons, leais, num bando de encarcerados nas grandes cidades. Andando pelas calçadas podemos nos sentir pisando em fotografias de luar ou temendo a escuridão das nossas próprias sombras nos atacando pela retaguarda. Das janelas, dependendo do nosso estado de espírito, podemos sentir a mais bela pintura do sol poente ou sofrer pelo mais triste, monótono, rotineiro e saudoso dos entardeceres. Nesse duelo sentimental somos o melhor dos cardápios para as emboscadas do destino.
Chega um tempo que tomamos a consciência que todos nós somos janelas e calçadas, cada um, tentando escolher qual é o melhor laboratório que nos ensine a formula mágica como não cessar diante do andar inexorável da vida, sem percebermos que entre elas existe apenas uma fina cortina, pela qual podemos ver a dor ou a felicidade alheia, o hoje e a eternidade, as verdades e as mentiras do nosso interior. No dançar das sombras atrás do pano de fundo desses palcos do cotidiano, enxergar o amor e a miséria do homem é simplesmente uma questão de saber mirar a vida com os olhos da alma.
Sabemos que as janelas têm olhos devassadores, espírito apaixonado pelas ruas, pelas pessoas, pelas cidades. Obrigados pela modernidade, pelo medo de morar tão rés ao chão, infelizmente, fomos mudando de ninhos. Saímos das casas avarandadas, das janelas floridas, para as sacadas dos apartamentos. Se não estão tão próximas do romantismo das janelas de antigamente, podemos aliviar nossas perdas sentindo o correr de tantos ventos mais fortes, rastreando novas paisagens, indo atrás dos nossos sonhos mais audaciosos que insistem em andar pelas ruas, não desistindo, dessa maneira, dos sentimentos que nascem do coração.
Moramos tão alto hoje, essa é a única vantagem dos edifícios, que a distância para os pássaros ficou tão curta que quase conseguimos ouvir o ruflar de suas asas, tocar nas suas plumagens coloridas, viajar na liberdade dos seus cantos, saber que estamos mais perto do sol, das cores do céu, dos perfumes de muitas de nossas saudades e quase sentindo o amor de todos os anjos.
Ficamos absolutamente longe, todavia, do andar e dos olhares das pessoas que passam pelas calçadas. Ficou quase impossível saber se suas fisionomias carregam aflições, se buscam sonhos, esperanças de glórias, se levam nas mãos cartas para seus amores perdidos ou se guardam nos lábios apertados o alarido da dor que a pressa do mundo, tão próximo da face do chão, já não tem mais tempo de acolher e nem deseja ouvir esses lamentos da alma.
Hoje, fechamos as janelas, como fechamos as portas dos guarda-roupas. Definitivamente o romantismo está agonizante, entre quatro paredes. Ainda bem que nos sobra o pulsar rubro das paixões.
Esse noivado de séculos entre os olhares bisbilhoteiros que se derramam das janelas e o teatro das ruas, encenando sonhos, desesperanças, amor, esperanças, desamor, é o grande testemunho das misérias e grandezas que todos vivenciamos nesse laboratório estonteante, nesse julgamento diário, onde absolvidos e condenados pelo tempo, pela vida, escrevem, felizes ou sofridos, as páginas dos livros das suas existências.
Dos olhos das casas podemos ver o caminhar das faces felizes ou as que trazem nos lábios o desenho da dor. Através de muitos rostos emoldurados pelas janelas, os que andam pelas calçadas conseguem sentir se essas almas debruçadas nos parapeitos são tristes prisioneiras das suas feridas internas ou se têm seus corações batendo acelerados, livres, felizes.
Quem não conhece um caso de amor que nasceu de um cruzar de olhares entre a calma das casas e a agitação das ruas? Juras invisíveis de amor que devassaram essas pequenas fronteiras e acabaram criando amantes perfeitos, íntimos, cúmplices, como são as janelas e as calçadas. Que importam os olhares de despedidas, se um novo amor sempre é o maior aliado das dores do coração?
A modernidade, o medo das ruas, infelizmente, vem tornando os homens bons, leais, num bando de encarcerados nas grandes cidades. Andando pelas calçadas podemos nos sentir pisando em fotografias de luar ou temendo a escuridão das nossas próprias sombras nos atacando pela retaguarda. Das janelas, dependendo do nosso estado de espírito, podemos sentir a mais bela pintura do sol poente ou sofrer pelo mais triste, monótono, rotineiro e saudoso dos entardeceres. Nesse duelo sentimental somos o melhor dos cardápios para as emboscadas do destino.
Chega um tempo que tomamos a consciência que todos nós somos janelas e calçadas, cada um, tentando escolher qual é o melhor laboratório que nos ensine a formula mágica como não cessar diante do andar inexorável da vida, sem percebermos que entre elas existe apenas uma fina cortina, pela qual podemos ver a dor ou a felicidade alheia, o hoje e a eternidade, as verdades e as mentiras do nosso interior. No dançar das sombras atrás do pano de fundo desses palcos do cotidiano, enxergar o amor e a miséria do homem é simplesmente uma questão de saber mirar a vida com os olhos da alma.
Sabemos que as janelas têm olhos devassadores, espírito apaixonado pelas ruas, pelas pessoas, pelas cidades. Obrigados pela modernidade, pelo medo de morar tão rés ao chão, infelizmente, fomos mudando de ninhos. Saímos das casas avarandadas, das janelas floridas, para as sacadas dos apartamentos. Se não estão tão próximas do romantismo das janelas de antigamente, podemos aliviar nossas perdas sentindo o correr de tantos ventos mais fortes, rastreando novas paisagens, indo atrás dos nossos sonhos mais audaciosos que insistem em andar pelas ruas, não desistindo, dessa maneira, dos sentimentos que nascem do coração.
Moramos tão alto hoje, essa é a única vantagem dos edifícios, que a distância para os pássaros ficou tão curta que quase conseguimos ouvir o ruflar de suas asas, tocar nas suas plumagens coloridas, viajar na liberdade dos seus cantos, saber que estamos mais perto do sol, das cores do céu, dos perfumes de muitas de nossas saudades e quase sentindo o amor de todos os anjos.
Ficamos absolutamente longe, todavia, do andar e dos olhares das pessoas que passam pelas calçadas. Ficou quase impossível saber se suas fisionomias carregam aflições, se buscam sonhos, esperanças de glórias, se levam nas mãos cartas para seus amores perdidos ou se guardam nos lábios apertados o alarido da dor que a pressa do mundo, tão próximo da face do chão, já não tem mais tempo de acolher e nem deseja ouvir esses lamentos da alma.
Hoje, fechamos as janelas, como fechamos as portas dos guarda-roupas. Definitivamente o romantismo está agonizante, entre quatro paredes. Ainda bem que nos sobra o pulsar rubro das paixões.
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