terça-feira, 2 de novembro de 2010

0

eu no mato as árvores e o cão:ferool

quando ouço o estalar do pinheiro
e o assobiar do eucalipto
sei que estou numa mata decadente
só tenho medo do mato e das cobras
- mas tenho cão -
e o cão não tem
não sei onde estou mas o cão sabe
ele conhece o mato mas tem medo do alto
não preciso de saber mas de cabelos e ouvidos
e o cão não sabe
ele só fossa o chão
sei que o vento me veio encher as narinas
e revoltar o penteado
mas o cão não sabe
ele só ajuíza o medo
e eu respiro o céu-aberto como se fosse um guarda-vento na procura da infusão
e o cão força a venta na raiz da árvore
sinto-me cão de faro alto feito homem
que se esqueceu que tinha olhos
e absorvo o vento frutuoso de pinho e eucalipto mais exuberante que todos os enxovais reunidos e as bodas anexas
respiro embeiçado e o cão ladra
extasio-me da profusão e o cão foge latindo com um rabo-inteiro na oposição
então vejo uma velha e pesada árvore sem um sequer de poesia que se apresta para me esmigalhar a pinha
fujo a ladrar ou outra coisa de encontro ao cão
que me acolhe e fala ou ladra com sotaque de entendido
eu bem te avisei
deixa de olhar para cima
é embaixo que moras
e o cão me levou para casa

esquisito
não me lembro que alguma vez tivesse tido cão
mas soube que uma árvore caiu na minha região

ferool

Seja o primeiro a comentar: