domingo, 14 de novembro de 2010

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METADE EU, METADE VOCÊ - Mariela Mei

“Dá pra acreditar que isso tudo um dia foi metade eu e metade você?” – perguntei a Leonardo com a cabeça virada para o outro lado. Porque ela direcionava meus olhos que miravam Vinicius brincando no chão num papo entusiasmado com seu carrinho de brinquedo. Não queria ter de perdê-lo de vista um segundo apenas, porque naquele momento flutuante não importava a birra na hora do almoço ou a manha antes do sono: eu o tinha sob a mais absoluta contemplação.

Os filhos crescem rápido. Há três anos não imaginava que fraldas e mamadeiras seriam minhas maiores preocupações durante muito tempo. Muito menos concebia a ideia de driblar minha insônia produtiva e ir para a cama cedo pensando na mamada da madrugada. Os filhos mudam tudo.

Primeiro porque deixamos de ser egoístas para nos tornarmos pais. Depois porque aceitamos não gastar tanto tempo com aeromodelismo para nos dedicarmos a outros hobbies: mecânica e medicina experimentais. Tornamo-nos malabaristas – café com fralda, deadline mais mamadeira, almoço e choro, chefe mais babá ao telefone, jantar com boneca, fralda e mamadeira, sexo e (droga!) choro. E também nos tornamos mágicos, sob a missão totalmente impossível de pagar duas vezes mais contas com duas vezes menos dinheiro.

E qual o bônus disso tudo? O sorriso que explode no rostinho do filho ao largar a mão da professora e vir ao nosso encontro, trançando as pernas como que aprendendo a andar naquele instante, para o melhor dos abraços. O beijo estalado de boa-noite, a garantia de um sono tranquilo livre de pesadelos. E o mais inesperado “mamãe, amo cecê” em meio a toda a correria do dia-a-dia.

Então os dias passam, fraldas em cima de beijos e manhas entre mamadeiras. As pernas já não se topam com tanta frequência, e as palavras se tornam mais claras. Somos pegos de surpresa num desses dias aparentemente normais, quando olhamos para o lado e os reconhecemos como serem independentes. Agora eles andam, comem e conversam sozinhos. Arriscam vez ou outra um pipi sozinhos.

Ao olharmos para o lado, como eu olhava naquela noite, percebemos que talvez nunca tivemos de fato o controle dos nossos filhos. E temos medo. Porque passamos a enxergá-los não mais como desafio, mas como companheiros. Porque eles crescem: estão buscando seu lugar no mundo. E cabe a nós, pais que somos, deixarmos que mergulhem nessa loucura e se deliciem com a vida.





Mariela Mei



Imagem: Maurizio Moro




3 comentários

Lanza

Maravilhoso o texto.

Jucifer

olá guria
esta certissima
não tem nada mais gratificante
q alegria o sorriso de nossos filhos
lindo texto

bjo grande

Eduardo

Relendo, parece sempre diferente. Uma nova sensação! Falar de filhos, falar da vida é viver em dobro!
Um abraço Mariela!