terça-feira, 16 de novembro de 2010

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O erro de Dawkins - Fernando Bastos


Nas linhas iniciais de “Deus, um delírio”, o famoso biólogo inglês Richard Dawkins escreve que se for bem sucedido, no fim do livro todos os crentes se tornarão ateus. O erro de Dawkins foi acreditar que com bons argumentos poderia destruir crenças e superstições arraigadas na infância. Funciona apenas com a minoria. Por quê?

Porque a maioria dos seres humanos ainda se encontra num estágio de infância emotiva, despreparada para seguir sozinha nessa viagem chamada vida. Destarte, desde que se tornou homo sapiens, os seres humanos começaram a temer o desconhecido.

Para mitigar o temor das coisas que não compreendiam, os líderes dos bandos primitivos criaram um vasto leque de opções para poder suportar os receios do desconhecido. Assim nasceram as religiões, com suas verdades consoladoras. Um deus que nos observa, se importa com assuntos humanos, atende preces e consola tinha que necessariamente ser inventado. A maioria das pessoas simplesmente não admite a hipótese de não existir esse deus, consciente das necessidades humanas. Seria como se lhe faltasse o ar.

Portanto, acreditar que com argumentos racionais pode-se debelar as crenças nesse lenitivo da alma, que ajuda a vida parecer menos dolorosa é no mínimo ingenuidade e falta de conhecimento da psique humana. O grande mérito de Dawkins é revelar o perigo que está por trás das religiões, que já causaram tantas guerras e destruições. No entanto, a maioria dos crentes querem apenas um bálsamo sobrenatural para viver e não estão preocupados com as mensagens machistas, bélicas e raivosas do deus do livro. Basta-lhes saber que deus é amor e os atende.

Daí que? Daí que a necessidade de crer no sobrenatural é mais emocional que racional, e sempre haverá crentes, por mais poderosos que sejam os argumentos contra deus, santos, vida após a morte, porque sem essas ilusões, a maioria não conseguiria suportar o peso da própria existência.       

 
 
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Fernando Bastos é escritor, autor de Teofania (Design Editora) e artista plástico. Nasceu em 1961, em Jaraguá do Sul, SC. Participou com outros escritores dos livros “Contos Jaraguaenses”, “Jaraguá em Crônicas” e “Palimpsesto”. Tem um blog sobre o livro Teofania: www.fernandobastosescritor.blogspot.com




Imagem: autor ignorado




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