quarta-feira, 10 de novembro de 2010

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Os Ciganos - Capítulo IX

– Olhe sua estrela! – falou a voz de minha vida paralela.

Eu estava olhando minha estrela. Mas repentinamente ela passou a ficar maior e descer em minha direção, como uma aeronave que buscasse um aeroporto. Após a descida suave, pousou a minha frente e dela desceu uma pessoa, que era eu. Outra Reika, só que em um traje de sonho. Vestido azul de tecido translúcido, tão brilhante como se fosse feito de diamantes. A outra Reika me estendeu a mão gentilmente fazendo-me levantar de meu repouso na grama. Sem resistir deixei-me levar para dentro de minha estrela, que suavemente alçou-se no ar com leveza. Dentro da estrela percebi que podia ver minha casa na rua próxima ao morro, sentir o que as pessoas que transitavam lá nas ruas de sua pequena cidade sentiam. Ver meus familiares em seus afazeres e ouvi-los como se estivesse junto deles. Mas eu estava dentro de minha estrela, muito longe de meu planeta.

– Assustada?

A voz de minha vida paralela estava próximo ao meu ouvido, e uma outra Reika estava do outro lado da estrela olhando-me meigamente. Então seriam três as vidas paralelas? A moça aproximou-se e me levou para uma espécie de cama onde deitei suavemente. Alguns segundos depois, seres de luz começaram a colocar cristais sobre meu corpo em pontos como o tórax, o plexo solar, na curvatura dos braços, sobre os joelhos. À medida que os cristais eram colocados, minha mente foi se abrindo e fui percebendo toda minha vida passada, como se um filme muito realista estivesse passando a minha frente. A infância alegre e despreocupada junto ao mar e os morros, o farol onde por tantas vezes fora com o irmão e os amigos, brincar com as gaivotas que se hospedavam por ali. A adolescência cheia de dúvidas e rebeldias, as brigas com o irmão, as broncas dos pais, as festas de aniversários e os passeios com amigos. Sara e Miguel a observavam com carinho lá do morro. O filme continuou passando até o momento em que encontrei com a vida paralela e cheguei até minha estrela. Os cristais estavam sendo retirados pelos silenciosos seres de luz. A outra Reika tomou novamente minha mão e me levou para fora da estrela. Estava novamente pisando a grama fria. Abri os olhos. Estava deitada na grama como estivera quando cheguei. Teria sido um sonho? Mas fora tudo tão real!

– Gostou? – perguntou a voz delicada de minha vida paralela – achou sua vida interessante até aqui?

– Então foi real? Estive mesmo dentro de minha estrela?

– A realidade tem a ver com o que acreditamos. Se acreditarmos que o mar se solidifica nossa fé o fará solidificar-se, se acreditamos que a terra se transformará em líquido, isso também acontecerá. Nosso mundo é o resultado de nosso querer e das criações de nossos pensamentos. Nada acontece em nossas vidas que não tenhamos criado no fundo de nossa mente.

– Mas nunca pensei em viajar em minha estrela!

– Será? Quantas vezes você ficou aqui com os olhos fixos nela, imaginando o que teria lá dentro?

– Muitas vezes!

– E o que mais?

– Para falar a verdade me vi muitas vezes abraçando minha estrela.

– Como viu, as coisas acontecem sempre para melhor se nós realmente pensarmos com fé. Em vez de você abraçar sua estrela, foi ela que a abraçou.

– Caramba! Então é por isso que algumas vezes as coisas acontecem em minha vida de forma inesperada, e sempre para melhor. Tenho muita fé! Então é isso?

– Sim é isso!

Levantei-me e comecei a caminhar de volta para minha casa. Já passava das dez horas da noite. Minha estrela se fora. A luz do farol continuava iluminando por intervalos regulares no giro da advertência na noite escura. E eu Reika, tinha vidas paralelas que me orientavam para uma vida melhor.

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