quarta-feira, 24 de novembro de 2010

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Os Ciganos - Capítulo XI

Em outra ocasião, ao entrar no portão da faculdade pela manhã, senti necessidade de voltar e virar a esquina da rua lateral do prédio. Fiquei no meio da quadra olhando para a rua sem entender o motivo de estar ali. Alguns segundos depois um carro em alta velocidade ia bater em uma criança descuidada que atravessava a rua. Corri e tomei a criança pelo braço e a puxei decididamente para a calçada. Salvei a vida do garoto.

Em outro dia, descendo a escadaria da faculdade que levava até ao pátio de entrada, vi um de meus professores sair apressado pelo lado oposto de onde estava. Sem sentir como foi, estava ao seu lado quando ele pisou em falso e ia estatelar-se lá embaixo, se eu não houvesse apoiado seu braço fortemente.

Coisas assim, aparentemente corriqueiras, aconteciam com mais frequência desde que passei a comunicar-me com as vidas paralelas. Às vezes brincava comigo mesma após algum desses acontecimentos, dizendo:

– Aí Super Reika! Mais uma vida salva!

Mas sentia-me extremamente bem após ter feito algo que resultasse no bem estar de outros.

Com o tempo voltei a ser comunicativa, a conversar com os amigos, a reunir-me para festas e passeios, cinema e outras coisas que fazia antes de ter encontrado as companhias paralelas. Afinal tudo acostuma, e viver em companhia de quem só quer ajudar, deixa você muito bem.

No dia de meu aniversário de vinte anos, resolvi dar uma festa para meus amigos, que aumentava de número dia a dia. Já estava no quarto período de filosofia e quase todos me consideravam uma pessoa de boa índole, sempre disposta a ajudar e resolver problemas de todos os tipos. Alguns colegas até se aproveitavam de minha boa vontade de vez em quando. Mas eu nem levava em consideração, pois havia levantado a bandeira da Paz e da Harmonia em minha vida. E afinal, alguns poucos casos de pessoas que não tinham boas intenções, não me fariam sofrer nem deixar de continuar ajudando. Por isso, a festa seria bem grande, e como não poderia arcar com tanta despesa, resolvi fazer por adesão, quem fosse à festa, pagaria sua parte. Todos aceitaram o convite, e no dia a lanchonete onde combinamos nos encontrar, estava lotada. Não havia lugar vago em nenhum canto do estabelecimento. Até meu ex-namorado e minha ex-amiga estavam lá. A festa transcorria animada. Parabéns daqui e felicidades de lá, todos faziam questão de cumprimentar-me. Na hora de cortar o bolo, quando ia me aproximar da mesa que estava posta no meio da sala, um aviso em meu ouvido dizia:

– Pare! Não ande mais nenhum passo.

Parei imediatamente enquanto todos gritavam: corta o bolo!

Amigos de máquina fotográfica em punho tiravam fotos, outros filmavam.

Parada no meio da sala a alguns passos da mesa onde estava o bolo, não me mexia. Apenas ouvia a voz intimadora:

– Pare! Não ande.

De repente um grande candelabro que estava exatamente em cima da mesa do bolo, com um estrondo medonho caiu e espatifou bolo, mesa e tudo o que estava por perto. Era uma imensa peça com grandes globos de vidro pesados, pendurados por correntes de ferro batido. Peça antiga, muito bonita, que era o orgulho do dono da lanchonete. Cada cliente novo que chegava ele explicava a presença de tão inusitada peça em seu estabelecimento:

– Foi de minha tataravó! A família o conserva há anos!

E naquele dia, no meu aniversário, o imenso e belo objeto achou de cair. Quer por força do tamanho ou da fragilidade do teto, ele despencou. Se eu estivesse em baixo teria morrido na certa.

O silêncio que ficou após a queda do candelabro foi até engraçado. Dava para se ouvir uma mosca voando. Todos perceberam o perigo que eu correra, e que por pura sorte fui salva. Um amigo de minha sala de aula foi o primeiro a falar:

– Reika! Pode contar sua idade a partir de hoje. Você nasceu de novo.

E como se suas palavras fossem mágicas, todos começaram a falar ao mesmo tempo e cada um tinha uma explicação para o ocorrido. - Nossa, podia ter sido assim ou assado. E com rapidez, todos ajudando, os estragos foram retirados do local e intimei os amigos para continuarem a festa sem o bolo. A maioria concordou e a festa continuou até altas horas.

Minha vida paralela me salvou!


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