Mais um ano se esconderá nas esquinas do tempo, nas prateleiras do passado, no esquecimento humano, soltando nas sombras e nos ventos do meio da noite a última folha do seu rápido e agoniado calendário.
Humberto de Campos com sua sensibilidade e sua melancolia, escrevendo uma carta ao ano que desaparecia, repudiava as ofensivas alegrias, os apupos, os agravos, com que os homens, ingratamente, se manifestavam no enterro do Ano Velho. E, como o grande mestre, também digo: eu, não. Eu me despeço do ano que finda com tristeza, com saudade e com extrema gratidão. Longe da infâmia de injuriá-lo, de traí-lo, de maltratá-lo, como quem injuria, trai, esquece e maltrata um velho companheiro, eu igualmente lhe tributo o meu afeto, o meu muito obrigado, a minha comovida recordação.
A minha fidelidade não me permite participar da festa ruidosa com que a população acompanha os despojos do vencido. Atrás do apedrejado não corre a minha pedra. Troco-a por um punhado de flores simbolizando a saudade que traduz o bem-querer e a melancolia que é filha dileta da saudade. Porque o Ano Velho, por entre risos e lágrimas, ainda que tenha sido mais angustiante que venturoso, foi profundamente amigo, não permitindo que o seu passo acelerado, que desgraçadamente já nasce sabendo a hora e dia do seu fim, assinalasse o meu ultimo dia sobre a terra.
Com o ano velho entrei, com o peso de todas as minhas lembranças, lutando para tentar reescrever a minha vida, buscando fechar feridas no meu espírito, e com ele saio na mesma batalha diária, sob a luz da manhã, durante a tempestade da tarde ou sob o sereno da noite imensamente escura ou soberba de estrelas, com o coração mais cansado, é verdade, mas batendo. E a vida, mesmo para os que como eu, que não temem voltar ao nada, é o suntuoso presente que esse pedaço do tempo oferece enquanto risca o universo e desaparece para sempre entre os fogos coloridos, efêmeras, mas tristes testemunhas da ingratidão do homem.
Por isso não calunio, nem desdenho o ano que terá seus funerais noturnos, ao som das musicas ensurdecedoras, dos risos tristemente incontroláveis. Eu, não. Guardando fidelidade às minhas convicções, às minhas amizades, reverenciarei a sua bondade, a sua memória, a sua infinita indulgência.
“Todas as nuvens passam, só a luz é que fica”. Passará a nuvem do ano velho, clara e feliz para uns, negra e tempestuosa para outros. Mas, aos seus ingratos sobreviventes legou a luz da sua caridade penetrando no limiar do desconhecido amanhã do Ano Novo.
Que o endeusado Ano Novo que surge atraente e excitante como o novo namorado do mundo, possa surpreender positivamente tantos corações insensíveis e fique a soprar a felicidade para o lado das almas solitárias. Que seja mágico, nas suas tarefas diárias, minimizando as dores que teimam em fazer reféns tantos espíritos justos e que traga nos ventos da sua primeira madrugada, mesmo ainda tão criança, o perfume do berço dos sonhos e envolva a humanidade na benignidade dos seus afetos.
O amaldiçoado Ano Velho, só é amaldiçoado porque o homem é injusto, ingrato, egoísta, divorciado do reconhecimento. Eu, não: embora ele não tenha me poupado das injustiças, das ingratidões, do martelar incessante de uma saudade que me fere sem remédio, sempre lhe serei grato porque poupou a minha vida. Da minha família, dos meus amigos do peito, dos corações infinitamente parceiros, de todos os meus amores, de todas as minhas mais intensas paixões e foi benevolente em preservar todos os meus sonhos.
Humberto de Campos com sua sensibilidade e sua melancolia, escrevendo uma carta ao ano que desaparecia, repudiava as ofensivas alegrias, os apupos, os agravos, com que os homens, ingratamente, se manifestavam no enterro do Ano Velho. E, como o grande mestre, também digo: eu, não. Eu me despeço do ano que finda com tristeza, com saudade e com extrema gratidão. Longe da infâmia de injuriá-lo, de traí-lo, de maltratá-lo, como quem injuria, trai, esquece e maltrata um velho companheiro, eu igualmente lhe tributo o meu afeto, o meu muito obrigado, a minha comovida recordação.
A minha fidelidade não me permite participar da festa ruidosa com que a população acompanha os despojos do vencido. Atrás do apedrejado não corre a minha pedra. Troco-a por um punhado de flores simbolizando a saudade que traduz o bem-querer e a melancolia que é filha dileta da saudade. Porque o Ano Velho, por entre risos e lágrimas, ainda que tenha sido mais angustiante que venturoso, foi profundamente amigo, não permitindo que o seu passo acelerado, que desgraçadamente já nasce sabendo a hora e dia do seu fim, assinalasse o meu ultimo dia sobre a terra.
Com o ano velho entrei, com o peso de todas as minhas lembranças, lutando para tentar reescrever a minha vida, buscando fechar feridas no meu espírito, e com ele saio na mesma batalha diária, sob a luz da manhã, durante a tempestade da tarde ou sob o sereno da noite imensamente escura ou soberba de estrelas, com o coração mais cansado, é verdade, mas batendo. E a vida, mesmo para os que como eu, que não temem voltar ao nada, é o suntuoso presente que esse pedaço do tempo oferece enquanto risca o universo e desaparece para sempre entre os fogos coloridos, efêmeras, mas tristes testemunhas da ingratidão do homem.
Por isso não calunio, nem desdenho o ano que terá seus funerais noturnos, ao som das musicas ensurdecedoras, dos risos tristemente incontroláveis. Eu, não. Guardando fidelidade às minhas convicções, às minhas amizades, reverenciarei a sua bondade, a sua memória, a sua infinita indulgência.
“Todas as nuvens passam, só a luz é que fica”. Passará a nuvem do ano velho, clara e feliz para uns, negra e tempestuosa para outros. Mas, aos seus ingratos sobreviventes legou a luz da sua caridade penetrando no limiar do desconhecido amanhã do Ano Novo.
Que o endeusado Ano Novo que surge atraente e excitante como o novo namorado do mundo, possa surpreender positivamente tantos corações insensíveis e fique a soprar a felicidade para o lado das almas solitárias. Que seja mágico, nas suas tarefas diárias, minimizando as dores que teimam em fazer reféns tantos espíritos justos e que traga nos ventos da sua primeira madrugada, mesmo ainda tão criança, o perfume do berço dos sonhos e envolva a humanidade na benignidade dos seus afetos.
O amaldiçoado Ano Velho, só é amaldiçoado porque o homem é injusto, ingrato, egoísta, divorciado do reconhecimento. Eu, não: embora ele não tenha me poupado das injustiças, das ingratidões, do martelar incessante de uma saudade que me fere sem remédio, sempre lhe serei grato porque poupou a minha vida. Da minha família, dos meus amigos do peito, dos corações infinitamente parceiros, de todos os meus amores, de todas as minhas mais intensas paixões e foi benevolente em preservar todos os meus sonhos.
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