terça-feira, 7 de dezembro de 2010

0

O Menino da Gaita - Capítulo II

Quando comecei a arrumar meus pertences em uma mochila para encerrar, o rapaz passou a ajudar-me todo prestativo, mas em completo silêncio. Ao término da tarefa agradeci e perguntei se tinha carona para a cidade, pois o clube era bastante longe do centro. Disse-me que não tinha, mas que arranjaria. Convidei-o então para levá-lo a sua casa. Meu carro era velho e feio, mas limpo e bem cuidado. O garoto entrou e sentou no lado do passageiro, e aguardou-me enquanto eu conversava com um dos diretores sobre o tamanho das turmas.

Ao entrar no carro lembrei-me do rapaz.

-Muito bem! – disse eu. Vamos lá. Onde você mora?

- Vou lhe mostrar, é fácil, fica logo na entrada da cidade.

Tentei conversar, mas ele respondia por monossílabos, muito envergonhado. Sorri enquanto dirigia pela estrada um tanto esburacada. Quando chegamos à rua em que devia virar, ele indicou-me o caminho. Paramos diante de um casebre muito pobre, com paredes velhas e escuras, muito pequeno.

- É aqui que moro. Obrigado.

Na varanda estava uma mulher loira alta, embora um pouco gorda, mas era muito bonita.

- Sua mãe? – perguntei.

- Sim! – e seu rosto ficou vermelho enquanto descia rapidamente do carro.

Acenou dando adeus e entrou pelo velho portão de madeira. A cerca estava quase caindo e havia lama nas laterais de um caminho de tijolos em frente a pequena varanda. Não pude deixar de notar a grande quantidade de flores que havia em um minúsculo jardim em frente a casa. Era estranhamente desproporcional. Sorri para o garoto e arranquei o carro.

Durante dois meses as aulas foram normais, novos alunos entrando e outros saindo das turmas. Durante esse tempo, as caronas para o garoto tímido tornaram-se regulares, tanto para ir como voltar das aulas. Alguma das vezes precisava também de levar amigos dele, que por algum motivo estavam sem carona. Acabei ficando amiga de todos, mesmo porque eram todos participantes de atividades do clube, embora nem todos fossem meus alunos. Conversávamos, ríamos, íamos a bailes na cidade e fora dela, formamos um grande grupo que sabia ser feliz. Sem perceber, fui ficando íntima do garoto tímido, era meu par constante nas festas, nos bailes, em todo lugar.

Raramente eu entrava em sua casa. Sua mãe parecia ter certa prevenção contra mim. Ela era uma alemã enfarruscada. Mas eu nem ligava, afinal meus alunos eram muito importantes para mim para que levasse em consideração uma cara feia.

Em certa ocasião fomos a uma festa numa cidade próxima. Ficamos o dia todo na festa e a noite fomos todos ao baile de encerramento. Luan ficou grudado em mim o tempo todo. Dançamos até o sol nascer. Quando chegamos a minha residência já passava das oito horas da manhã. Fomos todos fazer um lanche.

Era uma turma bem grande. Encomendamos sanduíches e refrigerante e ficamos até quase o meio dia, todos sem dormir desde o dia anterior. Após o lanche o pessoal foi se deitando, uns pelos tapetes, outros nos sofás, ainda com os paramentos do baile, e dormiam imediatamente. Pensei que nada podia fazer, e deixei-os ali esparramados pela grande sala do meu apartamento.

Seja o primeiro a comentar: