sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

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O CHORO DA SERRA

Aprendi a gostar de finais de semana quando ia com meus pais, bem pequena, ao Museu Imperial, em Petrópolis, e deslizava com aquelas pantufas enormes, encantada com o luxo e a exuberância da corte portuguesa na terra brasilis.

Aprendi o que era o lado direito e esquerdo na casa de Santos Dummont, nos degraus da escada de um pé de cada vez, e a ver as horas no Relógio das Flores, em Petrópolis, e a me imaginar princesa, em valsas intermináveis, no Palácio de Cristal.

Aprendi a dar o primeiro ponto de sutura num hospital, em Teresópolis, sob a orientação do Dedo de Deus, que me trazia alumbramento.

Aprendi a guardar lembranças e sabores da padaria da rua principal do Alto de Teresópolis.

Aprendi sobre vento, árvores, pássaros, um friozinho gostoso e muita paz, em Nova Friburgo.

Aprendi a gostar de comida alemã e a entender que suspiro não era só doce de clara de ovo e açúcar, mas que era também o nome da praça principal, onde se provava qualidade de vida.

Aprendi que viajar para a região serrana era uma forma de apreciar a Mãe Natureza, em sua majestade, do meu Rio de Janeiro.

Sou tão pequena para entender a Grande Mãe! Tanta água, tanta força, tanta dor...

Não aprendi a desapegar das humanidades todas.

Não aprendi a deixar de sofrer pelos que tudo perdem.

Não aprendi a desaprender.

Hoje, mais água inunda o peito, infiltra o coração e desaba em sal e desolação, soterrando o sorriso e deixando a poesia em escombros.

Sou pequena diante da Grande Mãe, mas me fundo aos que lamentam seus filhos, amaldiçoam as águas furiosas e as irresponsabilidades todas. Construir sem destruir.

Grito um grito de indignação e impotência.

Choro com saudade da infância. Visto minha alma de luto e vontade. Elevo uma prece de resgatar coragem. E entoo uma canção de reerguer mais um dia.

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