– Quer dizer que se eu quiser também posso usar o poder mental?
– Sim! Todos podem!
Com essas palavras Sara disparou em uma corrida com tanta leveza que parecia voar pela areia. Suas saias coloridas e seus colares reluzentes brilhavam a luz do sol que descambava para o horizonte. Corri atrás dela com as sandálias na mão, e a bolsa balançando ao compasso da corrida desenfreada pela areia.
Chegamos ao caminho que levava ao farol. Subimos, ela e Miguel em disparada, eu aos poucos fui cansando e subi mais lentamente. Quando cheguei ao topo o sol já havia sumido no horizonte, e as estrelas reluziam fracamente no céu que ainda estava tingido de luz aqui e ali. Logo depois escureceu.
No escuro via o vulto de Sara e Miguel. Ele sentado na pedra que parecia um banco, olhava o mar.
Sara estava em pé sobre uma grande rocha que havia bem próximo ao farol, com os braços abertos em forma de cruz. Os cabelos jogados pelo suave vento que vinha do mar reluziam na noite, criando vida própria ao receber a luz da lua. De olhos fechados ela sentia a maresia bater-lhe no rosto, e sua voz quase sussurrada perdia-se na escuridão. Agucei o ouvido para ouvir:
– Forças da natureza lancem seu poder em minhas mãos e minha mente, para que eu possa levar a termo a missão que minha mãe me deu. Devo ajudar as pessoas, dizer-lhes o caminho a seguir quando leio suas mãos, orientar quando tem alguma coisa que lhes possa prejudicar.
Enquanto assim ela orava, eu podia sentir o calor Divino que se espalhava pelo corpo, dando-me confiança para seguir em frente.
A figura imponente da cigana dominava a noite.
Miguel estava com a cabeça baixa, o lenço vermelho que lhe cingia a testa segurava os negros cabelos, protegendo-os do vento. As palavras da moça lhe chegavam docemente aos ouvidos como música suave. Acho que ele amava Sara e sonhava em tê-la como esposa um dia. Dava para perceber isso, não precisava muito esforço.
Ao terminar o colóquio com a escuridão, Sara desceu da pedra e dirigiu-se para o caminho que levava a seu barraco, seguida por Miguel.
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